Deveria haver indicações da última saída antes dos territórios sob controle da milícia ou do narcotráfico
Eduardo Paes emplacou
nesta semana seu quarto mandato como prefeito da Mui Leal e Heroica Cidade de
São Sebastião do Rio de Janeiro. E haja mesmo lealdade e heroísmo nos cariocas
(e agregados) para viver neste balneário, com flecha perdida vindo de tudo
quanto é lado.
O tetra-alcaide não tem poderes para combater a violência. O
ônus é do governador, que comanda (?) as polícias Civil e Militar. Não quer
dizer que não haja ações a seu alcance. Uma delas é, literalmente, emplacar a
cidade.
Poderia começar pelas placas das ruas. As que existem são
poucas, diminutas, ilegíveis para quem vem de carro e precisa virar num
logradouro cujo nome só se revela quando é tarde demais para dar seta e mudar
de faixa ou mandar parar a van. Isso reduziria, se não a violência, pelo menos
o estresse no trânsito.
Em seguida, sinalizar as rotas mais comuns.
Quem sai do Túnel Rebouças com destino à Rodoviária tem grandes chances de ir
parar na Praça da
Bandeira ou no Caju; e perder o
ônibus. Onde se lê “Maracanã”,
leia-se “Era aqui que você devia ter entrado para ir pro Maracanã, mané!”. Que
tal as placas virem um pouco antes dos acessos, não logo depois? Sim, é uma
proposta um tanto disruptiva e contraintuitiva, mas nada que se ombreie à
distribuição de Ozempic na rede pública de saúde.
Por fim — e, agora sim, o mais importante: já não passou da
hora de delimitar as áreas do Rio de Janeiro que não estão sob jurisdição do
prefeito, do governador ou do presidente da República? Aquelas que pertencem ao
Estado paralelo, com código penal próprio?
Seja na Linha Amarela, na Estrada dos Bandeirantes ou na
subida para o Cristo, deveria haver indicações da última saída antes dos
territórios sob controle da milícia ou do narcotráfico. Algumas poucas placas
espalhadas pela Zona Oeste ou por Santa Teresa —
demarcando a fronteira entre o que é administrado pela Prefeitura e o que é
dominado por bandidos — poderiam salvar muitas vidas.
Mesma coisa no Complexo da Maré — onde
ninguém entraria por engano, acarretando dissabores e desperdício de munição
por parte do governo local, a cargo do Terceiro Comando Puro e do Comando
Vermelho.
Perto da entrada de cada um desses enclaves, uma placa maior
(ok, pode ser um outdoor) traria informações básicas, como “Diminua a
velocidade, apague os faróis, abaixe os vidros, acenda a luz interna, ponha as
mãos na cabeça e reze para que as vítimas da sociedade — ou a escória da
polícia — acreditem que você apenas errou o caminho — e perguntem antes de
atirar”. Se o custo for elevado, pode-se tentar uma parceria público-privada
com plataformas de transporte por aplicativo. Os motoristas que usam apps de navegação
por GPS hão de ganhar muito em qualidade de vida (e em vida, inclusive).
Alternativamente, também seria viável pintar setas na pista:
seguindo em frente, chega-se ao Cristo Redentor; virando à direita (ou à
esquerda), sabe Deus o que aguarda (nesta ou noutra existência) o intrépido
visitante da Cidade Maravilhosa.
Não precisa emplacar logo a moda de sinalizar
ideologicamente os lugares (Barra e Leblon são,
obviamente, fascistas; progressistas, o Baixo Botafogo,
Wakanda in Madureira, Pedra
do Sal). Isso pode ficar para um próximo governo.
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