Com a credibilidade de Lula em
baixa, o melhor que o economista Marcio Pochmann tem a fazer é sair da
presidência do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ele é um
antigo quadro do PT e,
em menos de dois anos, envenenou sua gestão com a proposta de criação de um
IBGE +. Em tese, a novidade abriria uma janela para que o instituto firmasse
parcerias com empresas privadas.
Quando interesses privados se misturam com a academia,
coisas horríveis podem acontecer. Professores de Harvard e
da London School of Economics meteram-se com o falecido ditador líbio Muammar
Gaddafi. No Brasil, um braço da Fundação Getulio Vargas meteu-se com o então
governador Sérgio
Cabral.
Servidores e diretores do projeto de Pochmann batizaram-no
de “IBGE Paralelo”. Ironia da vida: em 2007, quando o doutor presidiu o
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, era acusado de cumprir a tarefa de
“estatizar” o Ipea.
(Em 2010, o instituto abriu um escritório na Caracas de
Hugo Chávez.) Agora, acusam-no de querer privatizar o IBGE.
O estatuto da Fundação IBGE + tem trechos
idênticos ao da malfadada similar da saúde do Rio. Até aí, pode ter sido
preguiça, mas prever que certas matérias exigiriam a aprovação de dois terços
de um conselho curador de cinco membros foi uma demasia para um texto do IBGE.
Dois terços de cinco dá 3,333.
Nas últimas semanas, duas diretoras do IBGE pediram
demissão, e 134 servidores (125 dos quais em cargos de chefia) assinaram uma
carta condenando o IBGE + e o estilo de chefia de Pochmann. Na semana passada,
demitiu-se o diretor executivo da Fundação IBGE +. É por causa do estilo que
Pochmann deve pedir para sair.
Ele assumiu em agosto de 2023, e seu projeto de um IBGE +
foi criticado em setembro de 2024. Em novembro, Pochmann pediu ao Ministério
Público que apurasse irregularidades e conflitos de interesse atribuídos a
funcionários do órgão. Seriam serviços privados de consultoria prestados a uma
instituição parceira do instituto. Só Deus conhece os labirintos das
consultorias, mas chamar o MP para investigar, dois meses depois das críticas,
cheira a revide.
Pochmann é uma flor do jardim da Unicamp e um petista raiz.
Disputou duas vezes a Prefeitura de Campinas e tentou se eleger deputado.
Quando sua gestão no Ipea gerou chuvas e trovoadas, ele se defendeu:
— Tenho mais de duas décadas de atividade acadêmica. Sou
polemista, gosto da polêmica. Não estou lá [no Ipea] para organizar o consenso,
mas para organizar o dissenso.
Desde que começou a crise no IBGE, a presidência do
instituto fala por meio de notas, sempre altaneiras. Numa delas, acusou os
críticos de mover “uma campanha de desinformação”. Desinformação foi o doutor
que estimulou, em outubro de 2020, ao dizer que o Pix do Banco
Central era “mais um passo na via neocolonial”.
Pochmann parece ter perdido gosto pela polêmica e, se em
algum momento quis organizar o dissenso, só conseguiu ampliá-lo. O sindicato
dos servidores do IBGE marcou para a manhã de hoje uma manifestação em frente à
sede do instituto.
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