Planalto traz marqueteiro para o 1º escalão, mas faria
melhor em mirar eficiência gerencial e maior sustentação no Congresso
Luiz Inácio Lula da Silva
(PT) começou o
que pode vir a ser uma reforma ministerial pela área da comunicação. Paulo Pimenta,
um político petista, deixa a Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom)
e quem
assume o posto é o marqueteiro Sidônio Palmeira.
Por trás da troca está
a tese disseminada em gabinetes de Brasília segundo
a qual o governo se comunica mal —um lugar-comum do exercício do poder
que raramente se pode sustentar.
Em geral cercados por auxiliares pouco dispostos a
contrariar o chefe, governantes sempre tendem a acreditar que estão fazendo um
bom trabalho, preferindo os fatos e números favoráveis e deixando de lado os
demais.
Se a avaliação popular não acompanha o juízo que o
mandatário faz de si mesmo, uma reação frequente é concluir que o governo falha
em divulgar suas realizações —não em gerir o país.
No caso de Lula, chama a atenção que o desempenho da economia e
do emprego nos
últimos dois anos, melhor do que o esperado pelos analistas, não se traduza em
índices mais robustos de popularidade. Isso não é tão paradoxal assim, porém.
O eleitorado costuma avaliar governos a partir de uma
combinação subjetiva de percepções e expectativas, na qual o bem-estar material
sem dúvida tem grande peso. Mas bons números no PIB e no mercado de trabalho
nem sempre se refletem na vivência cotidiana de todos, ou podem ser ofuscados
por dissabores como a alta da inflação, fora inúmeros fatores não econômicos.
Um bom marqueteiro até pode conseguir, momentaneamente,
valorizar as boas notícias e suavizar as más, mas não se deve esperar que seja
capaz de mudar substancialmente a opinião pública.
Os índices de popularidade do governo Lula pouco mudaram
desde o início de seu terceiro mandato. Segundo o Datafolha,
ele tem
hoje 35% de aprovação e 34% de reprovação; em seu o melhor momento, foi
considerado ótimo ou bom por 38%.
A avaliação, portanto, não sofreu grande impacto de
indicadores econômicos favoráveis. Isso deve tirar o sono do presidente da
República e de seus aliados, já que, daqui para a frente, o cenário deverá ser
menos benigno.
A alta do dólar e dos juros, para a qual o petista
contribuiu, projeta maior risco inflacionário e um crescimento econômico menor.
Enfrentar o desajuste orçamentário, que está na raiz da turbulência financeira,
exige providências que contrariam a base petista.
A conjuntura internacional também piorou
substancialmente. Dentro
de alguns dias haverá a posse de Donald Trump nos
EUA, cercada por temores de tarifas de importação e juros mais altos.
Ainda pelo Datafolha, 61%
dos brasileiros consideram que a economia está no rumo errado —má
notícia para um governo que ainda não firmou marcas em outros setores. Uma
reforma ministerial faria melhor, nesse contexto, em mirar eficiência gerencial
e maior sustentação no Congresso.
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