domingo, 5 de janeiro de 2025

RESTOS DE SATÉLITES E FOGUETES NO ESPAÇO CRIAM RISCOS IMPREVISÍVEIS

Editorial O Globo

Lixo espacial atravanca melhores órbitas, ameaça Estação Internacional e pode até desabar sobre a Terra

Desde a entrada da iniciativa privada no lançamento de satélites, a quantidade de objetos no espaço só tem aumentado. Nem todos se desintegram ou queimam ao reentrar na atmosfera. Mesmo depois de desativados, muitos satélites continuam a girar em torno da Terra. Hoje há 13.800 satélites em órbita, mas estima-se que em 2030 haverá 60 mil. No ano que vem, serão lançados mais 500 só de comunicações. Depois da vida útil, ficarão na lixeira espacial ao redor da Terra.

É preocupante, em particular, a quantidade de lixo que tem se acumulado nas órbitas baixas ou nas geoestacionárias acima do Equador. Os dejetos impedem novos satélites de ocupar posições críticas, que lhes garantem maior vida útil e maior alcance. Outro problema é o descontrole sobre o destino dos restos de foguetes, satélites e outros dejetos, que volta e meia têm caído na Terra de modo imprevisível.

Um pilar da Estação Espacial Internacional (ISS) desabou em março sobre uma casa na Flórida. Por sorte, não feriu ninguém. No ano passado, foram encontrados pedaços de metal e fibra de carbono em Nova Gales do Sul, na Austrália, e em Saskatchewan, no Canadá, provavelmente oriundos do lançamento de um foguete da Space X que levava materiais à ISS.

Pode-se pensar em destruir o lixo antes que desabe sobre a Terra. A China explodiu um satélite meteorológico que gerou 3 mil pedaços rastreáveis. A maior parte continua em órbita. É possível que haja dez vezes mais fragmentos tão pequenos que nem podem ser vistos. Os cientistas calculam que deve haver 500 mil pequenos pedaços de destroços em torno da Terra, alguns orbitando à velocidade de 35 mil quilômetros por hora, constituindo uma ameaça a outros satélites e à ISS.

A Força Aérea Americana rastreia cerca de 25 mil pedaços de destroços em órbita baixa, permitindo que operadores de satélites ou tripulantes da ISS sejam avisados dos riscos de colisão. Hoje, apenas objetos maiores que 10 centímetros podem ser monitorados. O governo americano acaba de criar um programa para enfrentar o problema do lixo espacial, e a Agência Espacial Europeia fará um teste de remoção desse lixo em 2026.

O assunto precisa ser tratado pela comunidade internacional. São necessárias novas regras de ocupação do espaço. Todo satélite lançado deveria ter um plano de desativação. Se estiver em órbita geoestacionária elevada, deveria ser deslocado para uma espécie de “cemitério” distante. A Comissão Federal de Comunicações (FCC) dos Estados Unidos há pouco determinou que satélites desativados sejam destruídos não mais que cinco anos depois do fim de sua vida útil. Melhor do que o prazo de 25 anos estabelecido pelas Nações Unidas. O mesmo deveria ser feito para os estágios de foguetes que ficam em órbita, alguns ainda com combustível. O Japão inovou: lançou um satélite feito quase todo de madeira, fácil de destruir.

Chegou o momento de não apenas reordenar a ocupação dos céus, mas de limpá-lo e de criar mecanismos para que o lixo não se acumule.

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