Além dos espetáculos de truculência, caso de Guarulhos
expõe ligações de setores da polícia com o PCC
Enquanto comemorava a eleição de Donald Trump nos
EUA com uma constrangedora aparição nas redes sociais vestindo
o boné do movimento Maga (Make America Great Again), o governador
de São
Paulo, Tarcísio
de Freitas, já vinha acompanhando a deterioração
de uma de suas bandeiras, também acenada pelo norte-americano: o combate ao
crime na base do enfrentamento e da truculência. O que se tem visto no estado é
uma sucessão de casos estridentes e condenáveis de violência por parte de
agentes, que chamam a atenção da mídia e da população.
Desde o final do ano passado, pesquisas de opinião têm
apontado o aumento da insatisfação dos paulistas com a segurança pública do
governador Tarcísio. É o ramo mais reprovado de sua administração.
Em 2024, registrou-se no estado aumento de
homicídios, latrocínios e
outros crimes violentos, paralelamente ao já conhecido crescimento
da letalidade policial.
Se esse quadro já diz muito sobre as dificuldades do
governador em justificar sua linha dura, um outro aspecto, ainda mais
preocupante, já não pode ser abafado.
Trata-se da contaminação de setores das polícias pelo crime
organizado, no caso de São Paulo, pelo PCC, o Primeiro Comando da Capital.
As investigações sobre o cinematográfico assassinato
do empresário Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, delator da facção, com
dez tiros de fuzis às portas do Aeroporto Internacional de Guarulhos, já não
deixam dúvidas sobre os laços de policiais com o submundo.
A diretora do DHPP (Departamento Estadual de Homicídios e de
Proteção à Pessoa) de São Paulo, Ivalda Aleixo, afirma que a operação foi
encomendada e paga pelo grupo.
Descobriu-se agora que parte da munição utilizada no
fuzilamento pertencia
à Polícia Militar. Três policiais foram presos sob suspeita de terem
realizado os disparos.
O episódio é um daqueles em que uma pontinha do iceberg se
deixa ver. Outras aparecem aqui e ali.
O prefeito Ricardo Nunes, por exemplo, aliado de Tarcísio,
disse que está, enfim, ultimando as medidas para cancelar contratos com as
empresas de ônibus UpBus e Transwolff, acusadas pelo Ministério Público de
ligação com o PCC.
Curiosamente, mesmo após as denúncias terem se tornado
públicas e a determinação de prisões e apreensões de bens, as empresas
receberam repasses de R$ 827 milhões, segundo o jornal O Estado de S. Paulo, e
firmaram novos contratos para operar no sistema.
A infiltração do crime organizado nas instituições vai cada
vez mais longe. Os tentáculos se insinuam nas disputas eleitorais e alcançam
Legislativo, Judiciário e Executivo em diversos níveis da federação.
A movimentação do tráfico internacional de cocaína agenciado
pelo PCC e outros grupos, no Brasil ou além das fronteiras, é da ordem de
bilhões. O poder corruptor é imenso. A descoberta de um traficante fardado em
avião da FAB que acompanhava o presidente Jair Bolsonaro à Europa, em 2019,
teria sido anedótica se não sintomática.
Há um consenso entre instituições e estudiosos voltados para
a segurança pública a respeito do amplo e dramático poder adquirido pelas
facções criminosas no Brasil e além de suas fronteiras.
Em contrapartida, não se observa um planejamento que dê
esperanças de que essa degradação poderá ser contida
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