Sinais de convergência de Trump com donos do dinheiro vão
além da foto dos bilionários das big techs
A foto viralizou e, muito mais do que a repercussão
momentânea própria de nosso tempo, tem tudo para permanecer como símbolo deste
momento histórico. Os bilionários da tecnologia perfilados em destaque na
cerimônia religiosa da posse do presidente Donald Trump representam não só a
aproximação de magnatas com o poder. Trata-se do prenúncio de uma era em que a
influência econômica na política americana escalará para patamares nunca antes
alcançados.
A presença de grandes empresários e executivos de
multinacionais nas celebrações de posse é uma tradição tão forte na cultura
americana que os casais presidenciais sempre têm que se submeter a um exaustivo
ritual de eventos, jantares e bailes, tamanha é a atração que a troca de
comando do país mais poderoso do mundo exerce sobre os donos do dinheiro.
Ter cinco dos sete CEOs das empresas mais
valiosas do mundo na primeira fila do culto religioso oficial na Igreja de St.
John, porém, tem um sentido muito diferente. Afinal, Mark Zuckerberg (Meta),
Tim Cook (Apple), Sundar Pichai (Alphabet), Jeff Bezos (Amazon) e Elon Musk
(Tesla, SpaceX e X) não estavam lá apenas em busca de favores – elas estavam
como que abençoando o retorno de Donald Trump ao poder.
O segundo mandato do republicano promete oportunidades sem
fim para as grandes empresas americanas. Para ficar apenas no seu discurso de
posse, não faltaram referências à liberdade de expressão e até a astronautas
americanos cravando a bandeira do país em Marte, temas que interessam
diretamente aos negócios das cinco gigantes da tecnologia, sendo duas delas
pioneiras na exploração espacial privada.
Ao citar os incêndios de Los Angeles em sua fala inaugural,
foi aos ricaços que tiveram suas mansões destruídas pelo fogo que Trump prestou
solidariedade. Não se pode acusar de incoerente, portanto, o novo mandatário
que, em um dos seus primeiros atos, retirou os Estados Unidos do Acordo de
Paris. A agenda ambiental é uma tentativa de colocar as externalidades
negativas da atuação privada – no caso, a poluição, a perda de biodiversidade e
os efeitos do aquecimento global – nas planilhas de custo das grandes empresas.
Sem compromissos com a neutralidade nas emissões de carbono, empresários
americanos estão livres para continuar maximizando seus lucros à custa da
humanidade.
Por trás do “Drill, baby, drill”, mais um dos inúmeros
bordões criados por Trump e que caíram no gosto do seu eleitorado, encontra-se
uma visão do potencial de riqueza que a exploração de petróleo e gás natural
nas reservas americanas pode gerar. O “ouro líquido debaixo dos nossos pés”
citado no discurso não significa somente uma estratégia de baratear os custos
de energia para combater a inflação, mas sim um poderoso incentivo para um
pequeno grupo de empresas do setor de óleo e gás. “Vamos fazer muito dinheiro
com energia”, admitiu horas depois, na coletiva à imprensa em que assinou a
ordem executiva declarando estado de emergência energética no país.
E por falar em slogans, as principais promessas do político
– colocar a América em primeiro lugar e fazê-la grande de novo – extrapolam,
para toda uma nação, a fórmula
de sucesso do empresário que se orgulha de ter enriquecido
deixando os escrúpulos de lado. Não importa se ao sobretaxar produtos
estrangeiros serão os próprios consumidores de seu país que serão penalizados;
o que vale é conceder uma vantagem para as empresas americanas, que antes não
conseguiam concorrer com os produtos mais baratos vindos de fora.
Trump está certo em louvar o espírito capitalista dos seus
compatriotas, conhecidos por serem “exploradores, construtores, inovadores,
empreendedores e pioneiros”, com ele citou em seu primeiro pronunciamento deste
segundo mandato. Suas práticas, porém, se anunciam como indo na direção oposta,
colocando o Estado a serviço de uma pequena elite de endinheirados do passado e
do futuro.
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