Lula pode até reaver popularidade, mas é difícil
recuperar credibilidade
Pesquisas de opinião habitualmente trazem notícias boas e
ruins quando se trata da avaliação de governos. A mais
recente do instituto Quaest, no entanto, só carrega dissabores para a
administração e para a pessoa de Luiz Inácio da Silva (PT).
A tendência de queda na visão positiva e o aumento da
negativa vinha se desenhando há algum tempo com certo equilíbrio entre as duas
correntes. Agora o levantamento mostra a ultrapassagem dos que desaprovam em
relação aos que aprovam tanto as ações governamentais quanto as atitudes
de Lula.
Uma curva perigosa, para lá de preocupante
se aliada a outros recortes da pesquisa. Houve queda de apoio no grupo de
eleitores mais fiéis —nordestinos, mulheres e os mais pobres—, a constatação
majoritária de que o governo errou no episódio
do Pix, percepção clara dos efeitos da inflação e
a violência posta
no topo das preocupações do público.
O cenário adverso não é surpresa para os ocupantes do
Palácio do Planalto e cercanias da Esplanada. Os dados explicam o afã de Lula
em promover uma virada de chave, um recomeço. O chamado segundo tempo do
mandato, contudo, começou mal, com claras demonstrações de atordoamento. Nada
melhor ocorre ao presidente que convocar "quantas reuniões forem
necessárias" para baixar os preços
dos alimentos.
Um ministro (Rui Costa)
comete o ato falho de falar em "intervenções", outro (Fernando
Haddad) apela à impropriedade de atribuir o exercício crítico da oposição a
ataques ao Estado democrático. Enquanto isso, circulam versões afobadas sobre
soluções adjetivas para problemas substantivos.
Ao suspender a venda da ilusão de que o país vai de bem a
melhor e passar a apregoar mudanças, o governo reconhece a situação hostil.
Acerta na problemática, mas erra na solucionática quando aposta todas as fichas
na forma de se comunicar em detrimento do conteúdo a ser comunicado.
Alguma maquiagem pode até melhorar a popularidade de Lula,
mas não há cosmético que dê jeito na difícil recuperação da credibilidade
perdida numa obra de autodemolição.
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