domingo, 5 de janeiro de 2025

VEREADORES PAULISTANOS PRECISAM RESGATAR A INDEPENDÊNCIA

Editorial Folha de S. Paulo

Nos últimos anos, sob comando de Milton Leite (União Brasil), Câmara Municipal atuou como extensão da gestão Ricardo Nunes (MDB)

Na divisão de Poderes típica do Ocidente, o Executivo efetua políticas públicas e põe em prática as leis, o Legislativo elabora normas e fiscaliza o uso de recursos públicos, o Judiciário cuida da aplicação do ordenamento jurídico.

O sistema vale para o Brasil, que o adota nas esferas federal, estadual e municipal —ou deveria adotá-lo. Na prática, a teoria nem sempre funciona conforme se prevê nos livros, e a Câmara de Vereadores de São Paulo está aí para dar o mau exemplo.

Sob comando de Milton Leite (União Brasil) desde 2021, o órgão legislativo da capital paulista tem se portado como mera extensão do Executivo municipal. A sintonia é tamanha que o próprio presidente da Câmara gosta de dizer que a Casa aprovou todos os projetos enviados pelo prefeito Ricardo Nunes (MDB).

Leite nega que a formidável taxa de sucesso do alcaide indique subserviência por parte dos vereadores.

"Temos de ser parceiros da gestão para que ela faça entregas à população. Nós discutimos todas as propostas, tanto que alteramos o texto, derrubamos [trechos] em vetos", afirma.

O uso da expressão "parceiros da gestão" trai o argumento. Não cabe à Câmara Municipal ser parceira da prefeitura; o que lhe compete é atuar como órgão autônomo, capaz de executar não só as suas funções legislativas mas também as fiscalizadoras.

Daí não decorre que os vereadores devam agir como inimigos da administração municipal, derrubando qualquer projeto gestado no Edifício Matarazzo. Mas, assim como tal beligerância levaria a uma paralisia, seu oposto resulta na supressão dos controles e na ausência dos debates que só engrandecem as democracias.

A próxima legislatura da Câmara de Vereadores de São Paulo terá a oportunidade de resgatar o equilíbrio entre os Poderes que parece ter se perdido nos últimos anos, já que Milton Leite, fiador do arranjo favorável a Nunes, não disputou o pleito em 2024.

renovação não se limita ao presidente da Casa. São 20 novos nomes entre as 55 cadeiras, e alguns deles chegam com a promessa de fazer uma oposição mais combatente ou de causar barulho com pautas específicas.

Por bem-vinda que possa ser essa disposição, espera-se que os novatos entendam o papel da missão para a qual se elegeram. Não se trata de ocupar o cargo público de olho na popularidade em redes sociais, e sim de exercê-lo em prol dos interesses do conjunto dos paulistanos.

Isso envolve discutir e aprovar bons projetos, sem dúvida, mas também fiscalizar os gastos da prefeitura. Nunes, por exemplo, lançou mão de diversas obras emergenciais —dispensadas de passar por licitação. É dever dos vereadores acompanhar com lupa esse tipo de iniciativa.

A nova composição da Câmara Municipal deveria abandonar a postura submissa e devolver ao Legislativo paulistano a altivez e a independência que sempre deveriam caracterizá-lo.

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