Com indícios de fraudes nas eleições, Chapo assumirá
Moçambique pressionado por protestos; miséria deteriora democracia
A crise política em Moçambique é
mais um caso que evidencia a importância do desenvolvimento econômico para a
proteção da democracia.
A nação africana, uma das dez mais pobres do mundo, corre
risco de rumar à guerra civil devido a indícios de irregularidades nas eleições realizadas
em outubro.
Segundo o resultado oficial, Daniel Chapo, candidato
governista do partido de esquerda Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo),
venceu com 65% dos votos; já Venâncio Mondlane, da sigla de centro Partido
Otimista pelo Desenvolvimento de Moçambique (Podemos), obteve 24%.
Chapo tomará posse nesta quinta-feira (15), mas contestações
sobre sua vitória indicam um futuro incerto e violento.
Em relatório de 15 de novembro, a Missão de Observação
Eleitoral da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa afirma que testemunhou
contagem errada de votos e indícios de eleitores que votaram várias vezes.
O Centro para a Democracia e Direitos Humanos, ONG
apartidária moçambicana, verificou "eleitores fantasmas" —quando há
mais eleitores registrados do que adultos aptos a votar.
Houve divergências até mesmo na Comissão Nacional de
Eleições, que supervisiona o processo eleitoral no país. Dos 13 comissários, 6
contestaram a deliberação do órgão que sancionou a vitória da Chapo.
As suspeitas de fraude desencadearam uma onda de protestos
que vem sendo duramente reprimida pelas forças de segurança. Desde outubro, de
acordo com a Plataforma Decide, ONG de Moçambique, foram computados 294
mortos, 604 feridos, 4.218 detidos e 22 desaparecidos.
O Frelimo está no poder há 50 anos, desde a independência
ante Portugal em
1975. De 1977 a 1992, fez parte da guerra civil contra o partido Renamo, mais
um dos conflitos regionais no contexto da Guerra Fria.
Após a primeira eleição multipartidária, em 1994, ensaiou-se
uma política econômica de mercado, mas que logo se viu capturada por
orientações estatistas e deteriorada pela corrupção endêmica
no país.
Moçambique está na 183ª posição no ranking do Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH) composto por 193 países; 75%
da população vive com menos de US$ 2,15 (R$ 13,11) ao dia, nível
considerado de pobreza extrema.
Tal carência material extrema desestabiliza instituições democráticas, criando um círculo vicioso que mantém o sofrimento dos moçambicanos há décadas. Para quebrá-lo, há que aliar racionalidade econômica com respeito à liberdade política.
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