Democratas-cristãos vencem eleições, seguidos por partido radical; economia, Trump e Guerra da Ucrânia serão desafios
Um número recorde de alemães, 83% do eleitorado, foi às urnas neste domingo (23) para escolher o novo governo do país mais importante da União Europeia. A mensagem deixada por eles é inquietante e lança sombras sobre o futuro político do continente.
Primeiro, as boas notícias. A saída de Olaf Scholz do comando da principal nação europeia abre a possibilidade do rompimento da inércia que marcou sua tíbia, e breve, passagem pelo poder.
O social-democrata preside a maior estagnação econômica alemã do pós-guerra, com a previsão de um crescimento nulo em 2025. No campo externo, ficou a reboque dos Estados Unidos no trato da Guerra da Ucrânia e se debatia atordoado ante o alinhamento recente proposto por Donald Trump com Vladimir Putin.
Se é incerta a capacidade do provável futuro premiê Friedrich Merz, líder dos democratas-cristãos, em mudar o cenário, ao menos seu diagnóstico do estado das coisas soa lúcido.
Nesta segunda (24), ele listou suas três prioridades imediatas: reorganizar o papel da Europa na guerra, abordar o espinhoso tema da imigração e buscar o estímulo da economia. Merz ainda fez uma clara advertência acerca do principal recado das urnas.
De acordo com ele, a expressiva votação na agremiação de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD) representa "o último sinal de alerta para que os partidos políticos do centro democrático da Alemanha encontrem consenso".
A AfD teve 20,8% dos votos, tornando-se a segunda maior força do país, atrás da direita tradicional dos democratas-cristãos, que amealharam 28,6%. Com isso, o partido radical terá 152 deputados no novo Parlamento.
Quando surgiu, em 2013, a sigla não chegou a romper os 5% mínimos para ingressar no Legislativo federal. Não chega a ser uma ascensão tão fulminante quanto a de seus antepassados liderados por Adolf Hitler, que foram de 2,64% em 1928 para 43,91% cinco anos depois, e a AfD já registrou refluxos antes: chegou a ser a terceira força em 2017, caindo para o quinto lugar em 2021.
De lá para cá, o clima político mudou na Europa. Se não chegou a beijar a cruz do centrismo como Marine Le Pen na França ou a já vitoriosa Giorgia Meloni na Itália, a AfD tem buscado se afastar de suas origens mais extremas.
Por outro lado, seu DNA tem sido reforçado com a volta de Trump. O americano celebrou o "grande dia para a Alemanha" elogiando Merz, mas seu escudeiro Elon Musk foi apoiador e financiador da AfD na eleição.
Isso pressionará Merz, sobretudo na área da imigração, na qual ele já cedera de forma polêmica ao aceitar apoio da AfD em uma votação. Agora, diz querer formar coalizão com os sociais-democratas e, talvez, os verdes.
A AfD reclama poder, mas por ora deverá ficar à margem, observando o desempenho do rival conservador. Assim como o resto da Europa e do mundo.
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