terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

DÉFICIT CRESCENTE IMPÕE NOVA REFORMA DA PREVIDÊNCIA

Editorial O Globo

Levantamento mostra que pagamento de aposentadorias e pensões aumentou 60% entre 2015 e 2024

São eloquentes os sinais de que as contas da Previdência se tornam a cada dia mais insustentáveis. Um levantamento feito pelo Tesouro Nacional a pedido do jornal Valor Econômico mostra que o déficit com pagamento de aposentadorias e pensões da iniciativa privada, servidores federais e militares cresceu 60% nos últimos nove anos. Em 2024, foram pagos R$ 417 bilhões (3,45% do PIB ). Em 2015, eram R$ 261 bilhões, ou 2,64% do PIB (os dados foram corrigidos pela inflação).

A maior parte do déficit de 2024 ficou no âmbito do INSS, responsável pelas aposentadorias do setor privado. O resultado foi de R$ 305 bilhões negativos, ou 2,5% do PIB (em 2015, eram R$ 141 bilhões, ou 1,43%). Causa fundamental do aumento é o reajuste do salário mínimo acima da inflação. Quase dois terços (64%) dos benefícios pagos correspondem ao mínimo. No caso dos servidores federais e militares, houve pequena redução no déficit, em razão do aumento na receita com contribuições previdenciárias (para servidores federais, de 0,67% para 0,50% do PIB; para militares, de 0,54% para 0,43%). A reforma previdenciária de 2019 estabeleceu para os servidores da União a cobrança de alíquotas progressivas de contribuição. No caso dos miliares, uma nova legislação mudou o plano de carreira e criou contribuição para pensionistas.

Não há dúvida de que a reforma trouxe ganhos. Mas eles se mostram insuficientes para suportar o aumento de gastos e o envelhecimento da população. Pelas previsões, os efeitos positivos se esgotam já em 2027. Isso torna urgente uma nova reforma para corrigir regras que sofreram correções brandas ou nem foram mudadas. O peso crescente do déficit exige alterações no cálculo das aposentadorias do INSS, dos servidores públicos e na proteção social de militares. As mudanças precisam chegar também a estados e municípios. Pouco mais de um terço das cidades (37%) e apenas 17 estados seguem as regras previdenciárias mais rigorosas do governo federal.

Não dá mais para adiar decisões necessárias. É preciso desvincular do salário mínimo a correção das aposentadorias (assim como do Benefício de Prestação Continuada, voltado a idosos e deficientes de baixa renda). O pente-fino que o governo tem feito para combater fraudes é medida paliativa, insuficiente para resolver o problema estrutural. É razoável que o mínimo obtenha ganho real à medida que país cresça, mas a regra não deveria ser aplicada às aposentadorias ou ao BPC, cujo poder de compra continuaria garantido pela correção de acordo com a inflação. Tratar situações diferentes da mesma forma é a principal causa da disparada do déficit.

O país tem envelhecido em ritmo mais rápido que o esperado, como constatou o último Censo. Nos próximos anos, a tendência é os beneficiados aumentarem e os contribuintes diminuírem. Não é difícil prever que a conta não fechará, uma vez que hão haverá gente suficiente para sustentar os pagamentos. Já seria uma situação que mereceria ajustes se os números fossem confortáveis. Não é o caso — e eles e só devem piorar. O déficit contamina todo o governo, que deveria gastar em outras prioridades além de pagar aposentadorias e benefícios. Pode parecer prematuro falar em nova reforma da Previdência cinco anos depois da última, mas basta olhar o rombo crescente para perceber que a hora já chegou.

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