Legendas de centro ganham chance de aliviar angústias
econômica e migratória, mas pode ser a última
Com previsão de obter 208 entre 630 cadeiras no Parlamento,
a União Democrata-Cristã (CDU) venceu as eleições de domingo na Alemanha.
Em parceria com a bávara União Social-Cristã (CSU), os conservadores liderados
por Friedrich Merz receberam a maior fatia dos votos (28,5%) e têm agora a
missão de costurar uma coalizão para assumir o governo. Desde a saída de Angela
Merkel do poder, a legenda de centro-direita estava na oposição. Agora, o
cenário mais provável é uma aliança com o Partido Social-Democrata (SPD), do
impopular chanceler Olaf
Scholz, que obteve 16,4% dos votos e 120 cadeiras. Apesar de representar um
alívio por manter o poder nas mãos dos mais tradicionais partidos alemães, a
vitória também representa um alerta.
O resultado é o segundo pior da história da CDU desde a
Segunda Guerra, apenas quatro pontos percentuais acima do pior desempenho,
registrado em 2021. O SPD, principal sigla de centro-esquerda, perdeu 9 pontos
percentuais desde a eleição anterior e, pela primeira vez, ficou em terceiro
lugar. As duas grandes forças políticas do Pós-Guerra sofreram erosão. Se não
derem resposta à altura da demanda do eleitorado, estará pavimentado o caminho
para os extremistas, que alcançaram resultado inédito nas eleições.
A Alternativa para a Alemanha (AfD), legenda de
ultradireita, foi a que mais avançou. Com a adesão de jovens e eleitores que
não costumam votar, dobrou sua fatia do eleitorado para 20,8% e conquistou 152
cadeiras. O discurso contra imigrantes lhe rendeu o melhor resultado de um
partido radical na política alemã desde a vitória nazista em 1933. Não fará
parte da coalizão governista porque os partidos de centro se recusam. O partido
A Esquerda, outra legenda radical que nem sequer ultrapassara a cláusula de desempenho
de 5% em 2021, recebeu 8,8% dos votos e conquistou 64 cadeiras.
A razão para o crescimento da votação entre os extremistas é
conhecida. A economia alemã está em recessão há dois anos, enquanto os países
ricos cresceram em média 1,7% ao ano. O setor automotivo, símbolo da pujança
industrial, ficou para trás na corrida da eletrificação. O investimento menor
em infraestrutura e educação teve impacto na produtividade. Digitalização lenta
e inovação deficiente também preocupam. Para o eleitor, está claro que o país
já viveu tempos melhores.
Tal conjuntura é terreno fértil para a xenofobia, explorada
por radicais. Em 2015, Merkel permitiu a entrada de centenas de milhares de
estrangeiros em busca de trabalho e asilo. Apesar de os refugiados não serem,
segundo estudos, mais propensos a cometer crimes, atentados terroristas têm
sido mais frequentes e contribuído para ampliar temores. Para atender à
preocupação dos eleitores, Merz tem prometido medidas mais duras, como
dificultar os pedidos de asilo. A sensação é que, com o resultado das urnas, os
partidos de centro ganharam uma chance de tentar aliviar as angústias do
eleitor nas políticas econômica e migratória. Se não der certo, pode ser a
última — e os extremistas estão à espreita.
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