As dificuldades são de três tipos: institucionais,
políticas e de clareza de objetivos
O presidente Lula chega à
metade de seu mandato carente do entusiasmo que despertou no passado.
Recente pesquisa Genial/Quaest mostra
queda da aprovação do seu trabalho; pela primeira vez, desde 2023, mais
entrevistados o desaprovam. A perda de apoio é significativa por também ocorrer
entre seus eleitores fiéis.
Os bons indicadores econômicos —crescimento do PIB e do
emprego— não amainaram as críticas dos formadores de opinião que duvidam de sua
sobrevida a médio prazo. O aumento do preço dos alimentos parece impedir que
aqueles resultados se traduzam em sensação de melhoria para os muitíssimos que
vivem com dinheiro contado.
Nenhuma iniciativa do governo tem conseguido erguer o ânimo
popular. Muito menos o das elites que desconfiam do mandatário e de seu
partido.
Diante disso, fraqueja a fidelidade das
legendas de direita que formam a coalizão governista. Dez entre dez analistas
preveem obstáculos políticos no Congresso ao longo dos quase dois anos que
restam à Presidência Lula.
As dificuldades do governo são de três tipos:
institucionais, políticas e de clareza de objetivos.
A arquitetura política brasileira inibe a concentração de
poder decisório no Executivo nacional. Federação; multipartidarismo; e, em
consequência, governo de coalizão; Congresso bicameral;
e Corte Suprema com
amplos poderes são a fórmula institucional que desconcentra poder, restringe a
capacidade de ação unilateral da Presidência e bloqueia governos de um só
partido. Assim, obriga a negociação de consensos entre lideranças e legendas
distintas.
O resultado é um processo sempre lento e difícil de
administrar. E ainda mais complicado quando, ao longo da última década, o
Legislativo se fortaleceu frente ao Executivo.
Nesse arranjo, líder apto é aquele que agrega, negocia,
convence e concede; nunca o que trata de impor sua vontade ou o programa de seu
partido.
Se as coalizões de governo são sempre necessárias, porque
resultantes de fatores institucionais, a atual administração enfrenta outra
dificuldade —esta, de natureza propriamente política: para governar, o
presidente de centro-esquerda precisa das forças de direita, majoritárias no
Congresso. Porém, ter a direita no governo naturalmente reduz a ambição de
qualquer agenda progressista.
Nada disso é novidade para o presidente Lula. Afinal, no
passado, ele governou com coalizões que incluíam partidos do centrão.
Negociador nota 10, soube construir consensos em torno de políticas de
inequívoco impacto social.
Embora as instituições e as novas prerrogativas de um
Legislativo dominado pelos conservadores imponham limites a iniciativas de
centro-esquerda, não parece estar principalmente aí o nó que amarra a gestão
atual a um desempenho fosco.
Pois já não basta ao seu condutor dizer que suas metas são
cuidar do povo e garantir trabalho e comida para todos os brasileiros. Faltam a
Lula 3 nitidez de objetivos, foco e prioridades claras —uma política econômica
que explicite compromisso com a estabilidade da moeda e o crescimento
sustentável e uma agenda social inovadora que enfrente a questão da qualidade
dos serviços públicos e da criação de oportunidades de desenvolvimento para
pessoas e famílias.
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