Durante toda a semana, veículos de imprensa se apressaram
em noticiar, com alarde, movimentos de bastidores de uma eventual reforma
ministerial
Em entrevista à Rádio Tupi, do grupo Diários
Associados, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou claro que cabe a ele,
e tão somente a ele, decidir as mudanças em seu ministério. Seria recomendável,
então, o chefe do Executivo definir logo o processo, a fim de evitar mais
desgastes em um governo que enfrenta problemas de popularidade.
Durante toda a semana, veículos de imprensa se apressaram em
noticiar, com alarde, movimentos de bastidores de uma eventual reforma
ministerial. Novamente, a titular da pasta da Saúde, Nísia Trindade, tornou-se
alvo de violenta especulação. Nem o presidente Lula, nem a própria citada, nem
qualquer integrante graduado do governo se manifestou oficialmente. Por dois
dias seguidos, a ministra divulgou, por meio de assessoria, informações sobre
sua atuação à frente da pasta, em uma espécie de prestação de contas aos
críticos e à opinião pública. Tudo muito dissimulado, sem transparência.
A troca de integrantes do primeiro escalão
do governo Lula tem rendido especulações há meses. No ano passado, encerradas
as eleições municipais, os boatos voltaram a ganhar força, ante a nova
correlação de forças políticas proveniente das urnas. E nada ocorreu.
Posteriormente, atrelou-se às possíveis mudanças a eleição para a presidência
da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Passadas três semanas, todos
permanecem no mesmo lugar.
Nesse período de muita especulação e poucas decisões, a
única troca efetiva no primeiro escalão do governo Lula ocorreu na Secretaria
de Comunicação, com a saída do deputado federal Paulo Pimenta e a chegada de um
especialista na área, Sidônio Palmeira. Nas palavras do próprio Lula, o
problema do governo estaria na comunicação. Os baixos índices de popularidade
registrados na última semana sugerem, contudo, que as dificuldades são maiores.
Em meio a tanta nebulosidade em Brasília, uma coisa é
visível. Não é bom para nenhum governo ver a ministra Nísia Trindade ser alvo
de ataques especulativos provenientes do próprio Palácio do Planalto; ou a
ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, ser questionada seguidas vezes em
praça pública pelo chefe. Tal estado de coisas prejudica o funcionamento do
governo e, em última instância, a própria imagem de Lula, na medida em que o
chefe do Executivo manifesta descontentamento com a própria equipe. Para isso,
diga-se, existe a oposição. Ou, recorrendo a um ditado da sabedoria popular,
roupa suja se lava em casa.
Não que a ministra Nísia Trindade esteja imune a críticas. O
governo Lula ficará marcado por uma crise gravíssima de saúde pública, com uma
epidemia de dengue responsável por mais de 6 mil mortes em 2024. Pesa a favor
da ministra-alvo, entretanto, o aumento da cobertura vacinal, em resposta à
herança irresponsável do governo anterior.
Independentemente dos prós e contras, é de se perguntar se o
mais grave problema da atual administração petista reside na saúde pública.
Para efeito de comparação, a política fiscal acumula um deficit de
credibilidade, a inflação permanece acima do teto da meta há meses. E não
falemos do dólar e da taxa de juros, que, no pensamento de Brasília, são de
responsabilidade do tal mercado e do sempre lembrado Roberto Campos Neto. No
entanto, não passa pela cabeça de ninguém substituir o titular da Fazenda, Fernando
Haddad.
Todos os ministros estão sujeitos a críticas. Mas é
lamentável observar que os ataques partem de supostos aliados e atingem
integrantes que, em tese, não se adequam ao tal perfil de político
profissional. Reformas ministeriais são normais e necessárias. Mas é de bom tom
ocorrerem dentro de um ambiente de respeito. Se Lula assim o quiser, que a
faça, para o bem do país.
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