segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

REFORMA COM MAIS RESPEITO

Editorial Correio Braziliense

Durante toda a semana, veículos de imprensa se apressaram em noticiar, com alarde, movimentos de bastidores de uma eventual reforma ministerial

Em entrevista à Rádio Tupi, do grupo Diários Associados, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou claro que cabe a ele, e tão somente a ele, decidir as mudanças em seu ministério. Seria recomendável, então, o chefe do Executivo definir logo o processo, a fim de evitar mais desgastes em um governo que enfrenta problemas de popularidade.

Durante toda a semana, veículos de imprensa se apressaram em noticiar, com alarde, movimentos de bastidores de uma eventual reforma ministerial. Novamente, a titular da pasta da Saúde, Nísia Trindade, tornou-se alvo de violenta especulação. Nem o presidente Lula, nem a própria citada, nem qualquer integrante graduado do governo se manifestou oficialmente. Por dois dias seguidos, a ministra divulgou, por meio de assessoria, informações sobre sua atuação à frente da pasta, em uma espécie de prestação de contas aos críticos e à opinião pública. Tudo muito dissimulado, sem transparência.

A troca de integrantes do primeiro escalão do governo Lula tem rendido especulações há meses. No ano passado, encerradas as eleições municipais, os boatos voltaram a ganhar força, ante a nova correlação de forças políticas proveniente das urnas. E nada ocorreu. Posteriormente, atrelou-se às possíveis mudanças a eleição para a presidência da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Passadas três semanas, todos permanecem no mesmo lugar.

Nesse período de muita especulação e poucas decisões, a única troca efetiva no primeiro escalão do governo Lula ocorreu na Secretaria de Comunicação, com a saída do deputado federal Paulo Pimenta e a chegada de um especialista na área, Sidônio Palmeira. Nas palavras do próprio Lula, o problema do governo estaria na comunicação. Os baixos índices de popularidade registrados na última semana sugerem, contudo, que as dificuldades são maiores.

Em meio a tanta nebulosidade em Brasília, uma coisa é visível. Não é bom para nenhum governo ver a ministra Nísia Trindade ser alvo de ataques especulativos provenientes do próprio Palácio do Planalto; ou a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, ser questionada seguidas vezes em praça pública pelo chefe. Tal estado de coisas prejudica o funcionamento do governo e, em última instância, a própria imagem de Lula, na medida em que o chefe do Executivo manifesta descontentamento com a própria equipe. Para isso, diga-se, existe a oposição. Ou, recorrendo a um ditado da sabedoria popular, roupa suja se lava em casa.

Não que a ministra Nísia Trindade esteja imune a críticas. O governo Lula ficará marcado por uma crise gravíssima de saúde pública, com uma epidemia de dengue responsável por mais de 6 mil mortes em 2024. Pesa a favor da ministra-alvo, entretanto, o aumento da cobertura vacinal, em resposta à herança irresponsável do governo anterior.

Independentemente dos prós e contras, é de se perguntar se o mais grave problema da atual administração petista reside na saúde pública. Para efeito de comparação, a política fiscal acumula um deficit de credibilidade, a inflação permanece acima do teto da meta há meses. E não falemos do dólar e da taxa de juros, que, no pensamento de Brasília, são de responsabilidade do tal mercado e do sempre lembrado Roberto Campos Neto. No entanto, não passa pela cabeça de ninguém substituir o titular da Fazenda, Fernando Haddad.

Todos os ministros estão sujeitos a críticas. Mas é lamentável observar que os ataques partem de supostos aliados e atingem integrantes que, em tese, não se adequam ao tal perfil de político profissional. Reformas ministeriais são normais e necessárias. Mas é de bom tom ocorrerem dentro de um ambiente de respeito. Se Lula assim o quiser, que a faça, para o bem do país.

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