Medidas adotadas pelo presidente estão criando um
ambiente hostil à ciência, que é uma das razões do sucesso dos EUA
Pelo menos desde o século 7 a.C. fabulistas alertam para o
perigo de, com vistas a obter vantagens de curto prazo, destruir para sempre a
rentabilidade de um recurso valioso. O mais célebre desses contos morais é a
história da gansa dos ovos de ouro, de Esopo.
Em português a gansa virou galinha, mas sem alteração da
mensagem central: não importa quais sejam as suas expectativas e objetivos, não
mate a ave que lhe fornece regularmente um ovo de ouro por dia; se o fizer,
você se arrependerá. Donald Trump,
com sua egolatria e mentalidade de mercador de bazar, está eviscerando várias
gansas, galinhas e até codornas que garantiam aos EUA enorme poder e riqueza.
Um golpe
particularmente duro é o que ele está dando contra a ciência americana.
No afã de combater o que chama de
"deep state" e simular ganhos de eficiência, Trump e Elon Musk,
seu escudeiro na entropia, não apenas congelaram bilhões de dólares em verbas
que seriam destinadas a agências e a programas de pesquisa em universidades
como também ameaçam demitir
milhares de cientistas que trabalham para o governo.
Como se isso fosse pouco, a administração Trump também está
criando um clima de hostilidade para com estrangeiros, que fará com que
pesquisadores talentosos de várias partes do globo pensem duas vezes antes
completar seu treinamento nos EUA e eventualmente radicar-se no país.
Mesmo que americanos se deem conta de que erraram ao
escolher Trump e iniciem uma nova correção de rota, o prejuízo para a ciência
será grande. Trata-se, afinal, de uma atividade cujos frutos muitas vezes
demoram para maturar, o que exige continuidade nos fluxos de financiamento. É
preciso também que os bons cientistas, cuja preparação se conta em décadas,
tenham confiança em que terão empregos razoáveis no futuro. Trump e Musk estão
violando as duas condições.
E isso é muito ruim para os EUA. Boa parte de seu poderio e prosperidade se
devem ao amplo domínio que o país exerce há um século em ciência básica e
inovação.
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