terça-feira, 8 de abril de 2025

GOVERNADORES BOLSONARISTAS SE UNEM PELO CANDIDATO IMPOSSÍVEL

Carlos Andreazza, O Estado de S. Paulo

Governadores bolsonaristas se unem pelo candidato impossível, em teatro por chance em 2026

Cinquenta mil pessoas. Talvez um Maracanã (o de hoje) cheio. Havia muita gente na Paulista. Donde a pergunta: qual a diferença entre a manifestação do último domingo e o ato fracassado no Rio de Janeiro, menos de mês atrás, se a pauta-pretexto era a mesma, se tudo continuaria organizado-engessado em função de Jair Bolsonaro?

Qual? O julgamento de Débora Rodrigues dos Santos e a exposição que seu caso teve a partir do julgamento do ex-presidente. O efeito Débora foi decisivo. A injustiça mobiliza – a proposta de condenação desproporcional indignou a sociedade – e essa onda é surfada pelo bolsonarismo.

Se é improvável a anistia – o objetivo dos protestos – a Bolsonaro, crescente vai a possibilidade de o Supremo rever as penas daqueles condenados pelo 8 de Janeiro julgados à baciada. Seria o correto, juridicamente falando. Politicamente falando – porque esse é o mundo em que transita a maioria dos ministros do STF: a forma de composição mais eficiente para baixar a pressão pela impunidade de Bolsonaro.

Muitos daqueles governadores não teriam participado da manifestação não fossem o caso Débora e a perspectiva de uma solução negociada – em vez de o perdão aos crimes, o alívio às punições. Muitos daqueles governadores não querem Bolsonaro elegível em 2026. Um teatro, o que se encenou. Se o caso Débora foi o elemento aglutinador da massa, a elegibilidade de Bolsonaro viabilizou o palanque. A turma toda ali, dando corda à farsa, na expectativa de como o candidato impossível gerirá a sustentação da mentira – ou o adiamento da verdade.

A foto dos jorginhos com Bolsonaro representa a unidade da direita em torno do candidato inelegível. União em torno do nada. A questão – no mundo real – sendo a unidade da direita em função de nome elegível. Essa inexiste. A direita mais tendente a se fragmentar.

Os caiados dependem de Bolsonaro, o grande eleitor. Que se recusa a exercer o papel. Que informa diariamente – inflando o carro de som com zemas para diluir tarcísios – que esticará o embuste da própria candidatura 2026 adentro. Que arriscará perder o controle que avalia ter sobre o processo. O sangue está na água e os marçais farejam.

Lula agradece. Agradece a Bolsonaro por fazer o Lula de 2018. Por querer ser o candidato ainda que por meio de um cavalo – alguém que lhe empreste o corpo à encarnação, qual Lula tomou Haddad sete anos atrás. Quais entre os ratinhos topariam essa montaria? Porque são posições competitivas muito diferentes: ser o candidato de Bolsonaro, apoiado por ele; e ser a carcaça emprestada à incorporação de Bolsonaro.

A primeira opção pressupõe tempo para que o candidato – apoiado pelo líder – desenvolva a existência individual. A segunda, à qual aponta o mito, comunica pressa, solução-puxadinho para que – não tendo Bolsonaro nas urnas – haja Bolsonaro nas urnas. Lula agradece.

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