segunda-feira, 7 de abril de 2025

POLÍTICA PÚBLICA ELEITOREIRA CAUSA DANOS

Irapuã Santana, O Globo

A postura de Tarcísio passa uma mensagem a seus subordinados, gerando o total descontrole social a que assistimos com medo

Quando política pública é feita com finalidade eleitoreira, sem analisar os dados empíricos nem respeito à ciência, o resultado é invariavelmente desastroso. E esse é exatamente o caso da segurança pública do Estado de São Paulo.

Em estudo realizado pelo Unicef, constatou-se que 77 crianças e adolescentes entre 10 e 19 anos morreram em intervenções policiais no estado em 2024, segundo ano do governo Tarcísio de Freitas. Enquanto em 2022, na gestão Rodrigo Garcia, foram 35 vítimas — houve aumento de 120%. Depurando as informações, verifica-se que crianças e adolescentes negros são 3,7 vezes mais vítimas de intervenções letais da PM do que brancos.

Não à toa, esse fato terrível ocorre durante uma administração que não investiu nas câmeras de farda dos policiais. Ainda em 2022, meses antes das eleições, então pré-candidato, Tarcísio foi o primeiro a abordar o tema, expondo sua pretensão de extinguir a obrigatoriedade de uso, por entender que é mais eficaz para o combate ao crime o treinamento contínuo e a capacitação da tropa. Na época, nesta mesma coluna, apontei, acompanhado de estudos consistentes sobre o tema, o grave erro que seria seguir por esse caminho.

Em 2024, em entrevista à TV, Tarcísio perguntou que benefícios as câmeras de farda traziam ao cidadão, afirmando em seguida que a resposta era zero. Àquela época, números contundentes já apontavam para o impacto da direção de sua gestão na segurança pública. Segundo os dados disponíveis até então, a capital paulista registrara 229.639 furtos entre janeiro e novembro de 2023, média de 28,6 por hora — 15.219 a mais que no mesmo período do ano anterior. Mas não foi só isso. O primeiro ano do mandato de Tarcísio marcou o maior índice de roubos desde 2001, quando começaram a ser apurados os dados de violência da série histórica da Secretaria de Segurança Pública.

Ainda no primeiro ano, a letalidade policial aumentou 20% e seguiu em curva crescente até hoje. Dados do Ministério Público mostram que houve um salto de 355 para 702 mortes cometidas por agentes entre 2022 e 2024. Esse cenário não é apenas coincidência. A postura de Tarcísio passa uma mensagem a seus subordinados, gerando o total descontrole social a que assistimos com medo, em que os crimes sobem, e a violência é disseminada e acelerada pelo próprio Estado.

Outra consequência nefasta é o aumento da exposição ao perigo dos policiais que patrulham as ruas. Desde 2022, houve crescimento de 133% nos assassinatos desses agentes em serviço.

Nesse período, celebrou-se a queda de homicídios em 2023 e de roubos. Entretanto não se falou em relação ao aumento de furtos, estupros e latrocínios, de modo que é perceptível a falta de compromisso com uma análise séria da situação. Isso fica ainda mais evidente quando se olha para a curva descendente de homicídios no estado há mais de dez anos.

Se a violência é a maior preocupação da população brasileira hoje, é preciso olhar para tal situação e pensar até quando queremos nos manter nessa caminhada.

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