Ciro Nogueira diz que eleição presidencial continuará
polarizada e que seu campo político tem que se unir na disputa
Em um cenário de queda da popularidade do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, lideranças da oposição tentam afinar uma estratégia para
derrotar o petista no pleito de 2026. O presidente do Progressistas (PP),
senador Ciro Nogueira (PI), disse ao Valor que não vê espaço
para uma terceira via na eleição presidencial, e exortou o seu campo político a
se reunir em torno de uma única candidatura, que será a representante do
bolsonarismo.
“Só tem espaço para Lula e [Jair] Bolsonaro, ou alguém com
apoio dele”, afirmou Nogueira. A avaliação do líder oposicionista ocorre ao
mesmo tempo em que o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), lançou
sua pré-candidatura à Presidência em um evento em Salvador, na Bahia, na
sexta-feira (4). União Brasil e PP negociam uma federação.
No contexto da fragmentação da direita, o governador de
Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), também já colocou o seu nome sobre a mesa como
alternativa da direita contra Lula no ano que vem. Caiado e Zema flertam com o
apoio de Bolsonaro.
Nogueira afirma que Bolsonaro buscará
caminhos judiciais para tentar reverter sua inelegibilidade na Justiça
Eleitoral, a fim de disputar a Presidência. Se essa alternativa não prosperar,
o senador cita os nomes que, na sua avaliação, poderiam representar o
ex-presidente nas urnas: o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o deputado
licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro ou
o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
O Valor apurou com aliados de Tarcísio que
o governador tem a mesma leitura política que o senador. Também acredita que o
nome competitivo da direita será Bolsonaro ou aquele candidato que o
ex-presidente apoiar. Um interlocutor do governador ressalta, entretanto, que o
plano dele continua sendo disputar a reeleição ao Palácio dos Bandeirantes.
Nos bastidores, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, tem
afirmado a interlocutores que a Executiva e o diretório nacional do partido
farão o que Bolsonaro decidir. Por enquanto, o ex-presidente resiste a
transferir o seu capital político para outro aliado, e está convicto de que
teria chance de vitória junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para se
candidatar no ano que vem.
Em 2023, o plenário do TSE declarou Bolsonaro inelegível. Em
ação movida pelo PDT, o tribunal constatou abuso de poder político e uso
indevido dos meios de comunicação em uma reunião realizada pelo então
presidente no Palácio da Alvorada, em julho de 2022, com embaixadores
estrangeiros, em que ele fez ataques ao sistema eleitoral e questionou sem
provas a segurança das urnas. O encontro foi transmitido ao vivo pela TV
Brasil.
O Valor apurou que Bolsonaro tem afirmado a
aliados que, num cenário em que despontasse em primeiro lugar nas pesquisas, e
com aval do TSE para concorrer, o Supremo Tribunal Federal (STF) não barraria
sua candidatura.
Contudo, em 2018, não foi o que ocorreu com Lula. Naquele
ano, o petista estava inelegível, mas insistiu na candidatura e liderou as
pesquisas até o fim. Um levantamento do Datafolha divulgado em 22 de agosto de
2018 mostrava Lula com 39% das intenções de voto, contra 19% de Bolsonaro e 8%
de Marina Silva. Mas no dia 31 de agosto, o TSE negou o registro da candidatura
por 6 x 1, e confirmou a inelegibilidade do petista, mesmo ele estando à frente
da corrida eleitoral.
Em outra frente, Caiado tem afirmado aos aliados que não
recuará da postulação à Presidência. Ele gostaria de ter o apoio de Bolsonaro,
e tem votos do bolsonarismo em sua base eleitoral, mas avisou aos aliados que
pretende concorrer, independente da aliança com o ex-presidente.
Disposto a buscar votos no Nordeste, reduto lulista, Caiado
subiu no palanque baiano armado pelos principais adversários do PT no Estado, o
vice-presidente do União e pré-candidato ao governo, ACM Neto, e o prefeito de
Salvador, Bruno Reis (União). “Estou lançando [a pré-candidatura] aqui na
Bahia, que é, sem dúvida nenhuma, a mãe do Brasil”, discursou.
Consciente de que a rejeição ao governo parte,
principalmente, da sensação de insegurança da população e da escalada da
inflação, principalmente, do preço dos alimentos, Caiado atacou Lula: “Hoje, em
muitos lugares do Brasil, o crime se impõe acima do Estado, mas em Goiás não é
assim”, afirmou. “Se eu chegar ao governo federal, bandido vai estar na cadeia
ou fora do país, porque aqui não vai mais incomodar ninguém”, reforçou.
Procurado por meio da assessoria, o governador Romeu Zema não retornou. Flávio,
Eduardo e Michelle Bolsonaro não responderam.
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