Partido pretende usar pré-candidatura de governador do
Paraná para aumentar capital político em negociações para 2026. Nome próprio na
disputa também dá liberdade a membros da sigla em relação à polarização
O PSD quer construir a candidatura do governador do Paraná,
Ratinho Júnior, à Presidência na eleição de 2026. O chefe do Executivo
paranaense já expressou diversas vezes seu desejo de disputar o Planalto e seus
apelos têm encontrado eco entre os membros da legenda - incluindo o presidente
do partido, Gilberto Kassab.
A pré-candidatura de Ratinho foi discutida na sexta-feira
(4), em evento do PSD no Rio de Janeiro. Parlamentares da sigla e Kassab
avaliaram como positivo ter um nome próprio na corrida presidencial do ano que
vem.
“É um debate que só vamos ter mais tarde neste ano. Mas se o
PSD tiver candidato, será o Ratinho Júnior”, disse Kassab ao Valor.
A fala do dirigente converge com o discurso adotado pelo
governador, de se colocar à disposição da disputa - da qual quer de fato
participar - mas sem deixar de lado a gestão do Palácio Iguaçu.
“Só o fato de estar no tabuleiro nacional
como um possível protagonista me deixa muito honrado, feliz, obviamente. Claro
que isso não é uma coisa que naturalmente coloca a minha candidatura, porque
tem uma construção interna dentro de partido, com a sociedade de certa forma, e
eu também tenho um compromisso com o meu Estado”, disse Ratinho.
Seguindo o calendário eleitoral, falta um ano para que os
futuros postulantes do pleito deixem seus cargos atuais e fiquem livres para a
disputa. As candidaturas, porém, só serão oficializadas em agosto de 2026. E
até lá, como é dito no jargão dos políticos, vai “passar muita água debaixo da
ponte”.
Nesse sentido, é comum que os partidos lancem nomes à
Presidência no período pré-eleitoral. Na sexta, o governador de Goiás, Ronaldo
Caiado, do União Brasil, se lançou na corrida, mas sem a presença do presidente
da sigla, Antonio Rueda. Como ocorreu no passado, nem todos os pré-candidatos
seguem na disputa quando ela começa oficialmente.
Alguns tentam outras vagas; como o ex-juiz Sergio Moro
(União Brasil-PR), que se colocava na como possível presidenciável da eleição
de 2022, mas que no final concorreu ao Senado. E outros sequer participam da
disputa. Foi o caso do ex-governador de São Paulo, João Doria, que chegou a
ganhar as prévias do PSDB no pleito passado e se licenciou do Executivo
paulista, mas foi abandonado pela própria sigla e deixou a vida pública.
De olho nos exemplos de quatro anos atrás, correligionários
tem orientado Ratinho a não repetir os mesmos passos do então presidenciável do
PSD, o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG). O parlamentar foi cotado para a
disputa desde o momento que se filiou à sigla, em outubro de 2021. No entanto,
ele fez poucos movimentos para se fortalecer como um player eleitoral,
priorizando sua atuação como presidente do Senado.
A consequência disso foi ter tido uma performance fraca nas
pesquisas de opinião da época, pontuando, em média, com 1%. Diante dos
resultados, Pacheco deixou a disputa ainda em março de 2022.
“Pacheco não performou. Ele não tinha expressão eleitoral”,
disse um deputado do PSD à reportagem, em caráter reservado. “Se Ratinho quiser
ser candidato, precisa fazer diferente.”
É o que o governador tenta fazer. Ele tem buscado apoio
entre aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), na expectativa de herdar um
pouco do apelo eleitoral do ex-mandatário, inelegível até 2030. Ratinho foi ao
ato bolsonarista no domingo (6) e ficou ao lado do ex-mandatário ao longo do
evento. Na sexta-feira (4), os dois também participaram de agendas juntos e
trocaram afagos. Bolsonaro, porém, tem defendido o governador como candidato ao
Senado.
Sem o ex-presidente nas urnas de 2026, o chefe do Palácio
Iguaçu tenta se cacifar para ser o candidato da direita, mas com tom mais
moderado que o do ex-presidente. Embora Ratinho tenha se mantido ao lado do
ex-mandatário, ele não comprou os discursos radicais, de supostas fraudes nas
urnas e negacionistas em relação à vacina. E se absteve de pautas contrárias ao
Supremo Tribunal Federal.
Há ainda outros motivos para o PSD querer um pré-candidato
na corrida ao Planalto. Um dos mais fortes, dito nos bastidores, é que, com
postulante próprio, o partido aumenta o capital político para negociar com
outras legendas espaços de prestígio nas chapas de 2026; até mesmo a de
candidato a vice-presidente. Há, inclusive, conversas, embora incipientes, para
uma possível aliança entre Ratinho e o governador de São Paulo, Tarcísio de
Freitas (Republicanos), nome mais cotado para concorrer à Presidência no lugar
de Bolsonaro e aliado próximo de Kassab.
Outro motivo é que uma candidatura do PSD afasta o partido
da polarização entre Bolsonaro e o presidente, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Na prática, vira uma carta branca para que os membros da sigla apoiem quem eles
quiserem. O PSD é conhecido por ser um partido heterogêneo e tem representantes
tanto no governo federal quanto na gestão de Tarcísio.
Com candidato próprio e sem estar preso numa aliança nacional com qualquer um dos lados, os filiados do PSD ficam soltos para formar palanques. É o caso do prefeito do Rio, Eduardo Paes, apontado como candidato ao governo do Estado em 2026 e próximo a Lula.
“Sigo firme na aliança com Lula. Ele tem sido excepcional para o Rio, e esse é o caminho que vamos seguir”, disse o prefeito. E acrescentou: “Ratinho tem uma aprovação absurda. É natural que ele se movimente e pleiteie ser candidato a presidente pelo PSD. Só que ainda há um longo caminho a ser percorrido.”
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