Existe um mau espírito em Brasília, e ele às vezes captura o
presidente, fazendo com que exacerbe as crises que entram no Palácio do
Planalto. Com Bolsonaro, o mau espírito fez a festa, levando-o a falar em “meu
Exército”, louvando a cloroquina e demonizando as vacinas. Lá se foi o tempo
de Fernando
Henrique Cardoso, quando as crises entravam gordas no Planalto e saíam
magras.
Lula decidiu
levar ao Supremo Tribunal Federal a questão do aumento do Imposto sobre
Operações Financeiras (IOF). Seja qual for a decisão do STF, o governo de Lula
perde. Se perder, perdeu; se ganhar, terá de lidar com um Congresso ferido.
Tudo isso por causa de um aumento de imposto incentivado na sanduicheria do
Ministério da Fazenda, sem que fossem ouvidos o Banco Central e ministros que
cuidam da imagem do governo. Se os çábios da Fazenda tivessem mais humildade,
teriam tirado o “combo” do escurinho de Brasília; ouvindo colegas do governo,
buscariam outras ideias.
O aumento do IOF foi um “combo” (nas
palavras do ministro Fernando Haddad) para compensar uma perda de arrecadação
na busca de equilíbrio das contas públicas. No sanduíche, viria também um corte
de gastos. O “combo” desandou, e o governo tentou, sem sucesso, negociar uma
gambiarra. Não conseguiu e resolveu ir para o tudo ou nada no plenário. Na
realidade, tratava-se de um nada ou nada, pois o presidente da Câmara avisara
que não havia votos suficientes para aprová-lo. Batido, o mau espírito
convenceu Lula a zangar-se com Hugo Motta e a levar a crise ao Supremo.
Ao escalar Motta para bode expiatório, a turma da Fazenda e
parte do Planalto resolveram ampliar a crise. Terão de lidar com um aliado
ferido.
Na retórica oficial, a ida ao STF pretende defender uma
prerrogativa constitucional do Poder Executivo. No recheio de um novo “combo”,
enfiaram também uma hipotética defesa do andar de baixo.
Contem outra, doutores. Apesar da promessa de Lula na sua
posse, a fila dos segurados do INSS chegou
a 3,9 milhões. Desde 2019 (governo Bolsonaro), milhares de aposentados vinham
reclamando das tungas que tomavam de entidades fraudulentas. Até a metade deste
ano, os larápios tiveram mão livre e roubaram bilhões de reais de milhões de
segurados.
Uma Medida Provisória publicada no último dia 11 mexeu no
prazo do auxílio-doença concedido a partir de análise documental. O segurado
podia receber seu benefício por 180 dias. Agora, só receberá por 30 dias.
Passado esse prazo, deverá conseguir uma perícia médica presencial ou ser
atendido por um serviço de telemedicina.
Antes mesmo da vitória no segundo turno, Lula sabia que os
eleitores haviam escolhido um Congresso conservador, com uma banda feroz. Ele
prometia amortecer essa desdita conversando com parlamentares, mas jogou as
palavras ao vento.
No perde-perde em que se meteu, o melhor resultado para a
encrenca seria perder no Supremo. Ganhando, levará água para a banda feroz, às
vésperas de um ano eleitoral, com um governo em viés de baixa junto à opinião
pública. Uma receita para novos desastres.


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