sexta-feira, 18 de julho de 2025

MANDELA, UMA INSPIRAÇÃO PERMANENTE

Uma das maiores lideranças do nosso tempo, Nelson Mandela completaria 107 anos se estivesse vivo hoje. Se tornou presidente da África do Sul após ser preso injustamente. Símbolo de harmonia e união, Mandela se levantou contra o racismo e em favor da democracia, sempre de forma pacífica. Hoje é Dia de Mandela. Viva Nelson Mandela! 

Confira abaixo, texto de Atila Roque, publicado no jornal Folha de S.Paulo em 2023.

Atila Roque, Folha de S.Paulo

É diretor regional da Fundação Ford no Brasil. Mestre em ciência política pelo IUPERJ (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro) e bacharel em História pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Ex-diretor-executivo da Anistia Internacional no Brasil e membro do conselho diretor do GIFE.

A definição, no calendário das Nações Unidas, do 18 de julho como Dia Internacional Nelson Mandela, convida a uma reflexão mais do que atual sobre o lugar e o papel de lideranças políticas para o destino da humanidade.

A trajetória do principal líder sul-africano, símbolo da luta contra o apartheid, o regime de segregação racial, é uma inspiração permanente para todos que buscam exemplos de pessoas que fizeram a diferença no seu tempo e deixaram uma marca permanente no mundo.

Nelson Mandela ficou encarcerado por 27 anos nas prisões do regime do apartheid, submetido a trabalhos forçados e isolamento durante boa parte desse período, e ainda assim conseguiu fazer desse tempo uma etapa de crescimento e amadurecimento político.

A leitura de suas cartas escritas ao longo dessas décadas é uma experiência comovente e reveladora. Mostra um líder determinado a não se deixar embrutecer, nem se perder de suas convicções e sonhos, mesmo em condições de contínuas privações e renovados castigos.

Na prisão continuou a estudar, aprofundou seus conhecimentos em história africana e direito internacional, mergulhou na cultura das elites brancas da África do Sul. Aprendeu a falar o afrikaner, idioma dos colonos brancos, para melhor se comunicar com essa população, a começar pelos carcereiros responsáveis por sua vigilância na prisão.

Liderou as negociações que levaram ao fim do regime de apartheid e às primeiras eleições livres com plena participação da população negra, sendo eleito o primeiro presidente negro da África do Sul, em 1994.

Mandela se tornou o principal porta-voz do esforço de reconciliação, sem perder o foco da necessidade de resgate e confronto da memória dos crimes cometidos pelo regime do apartheid. Foi sob a sua Presidência que se iniciaram os trabalhos da Comissão da Verdade e Reconciliação, que expôs ao mundo a dimensão da brutalidade do regime a partir do testemunho de sobreviventes e perpetradores.

Vivemos, atualmente, uma crise global de governança em meio a qual as lideranças de plantão claramente não estão à altura dos desafios para a necessária reconstrução institucional. Os governos e as instituições enfrentam uma profunda crise de legitimidade e representação.

As pessoas não se reconhecem naqueles que supostamente deveriam ser os seus representantes, responsáveis pela mediação dos conflitos e acomodação de interesses divergentes em acordos políticos que atendam ao bem comum.

O mundo se tornou um lugar ainda mais perigoso e instável. A guerra na Ucrânia e as ameaças autoritárias que se fortalecem mundo afora são alguns dos sinais de que temos muito o que aprender com Nelson Mandela.

A história e o exemplo de Madiba, como era carinhosamente chamado por seus conterrâneos, o colocam, sem dúvida, no lugar de um líder extraordinário em tempos extraordinários, fonte de inspiração para todos os que acreditam na capacidade da política e do diálogo entre diferentes como alicerces para processos sociais capazes de avançar na conquista da igualdade e da democracia.

Esquecer nunca foi uma opção para Mandela; memória e atribuição de responsabilidade são passos necessários para alcançar algo parecido com justiça. Uma lição importante diante de tudo o que estamos vivendo no Brasil.

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