Semana passada, um hater me chamou de
Matusalém. Só para contrariá-lo, farei algumas previsões sobre o futuro. Não um
futuro distante, mas os poucos anos que me restam.
Minha filosofia é a do poema “Quando vier a primavera”, de
Fernando Pessoa: Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem./Se
quiserem, podem dançar e cantar à roda dele./Não tenho preferências para quando
já não puder ter preferências.
Por enquanto, ainda há o que fazer. Vejo o Brasil numa
encruzilhada e o mundo como um espaço absurdo, onde a mensagem do homem mais
poderoso é sobre uma escada rolante emperrada, e algumas aberrações como o
perigo das energias alternativas.
Na verdade, era um discurso tão disparatado, que cheguei a
acreditar numa notícia falsa. Ela dizia que ele reclamou ao microfone que
sentia ardência quando fazia xixi. Diante dos líderes mundiais reunidos, ele
poderia ter reclamado de apneia do sono ou reafirmado que descobriu a causa do
autismo.
Para mim, nada faz muito sentido. Sou estrangeiro num mundo
em que o diverso e rico povo americano escolheu Trump; o sensível e sofrido
povo judeu, Netanyahu. Sofro diariamente com as notícias de Gaza. Agora o
Exército está jogando bombas incendiárias numa flotilha que leva alimentos e
remédios para Gaza. O depoimento do brasileiro Miguel Viveiros de Castro, que
viaja num dos barcos, é impressionante.
Seria possível construir algum nexo a partir do Brasil? Acho
que Lula será reeleito. Aliás, acho isso há muito tempo. Agora ficou mais
evidente porque a oposição pisoteou algumas de suas próprias bandeiras.
Primeiro, o nacionalismo foi para o espaço com o apoio tácito às tarifas de
Trump. Depois, a crítica à corrupção se derreteu com o apoio à PEC da
Blindagem.
Um problema é o Congresso. Com os bilhões gastos em emendas
parlamentares, inclusive o orçamento secreto, é grande a chance de nada mudar.
Há muito falo na necessidade de prestar atenção nas eleições parlamentares. Não
tem adiantado. Só se fala na presidencial.
Com o susto da PEC da Bandidagem, muita gente acordou. É
hora de aproveitar o momento. O cientista político Bolívar Lamounier sugere que
escolhamos milhares de pessoas sérias e tentemos renovar o Parlamento.
Acho difícil. No entanto é mais difícil não tentar. Não há
chance de o país avançar sem um bom Congresso. Mesmo na hipótese de termos um
bom presidente, com as características do atual Congresso, o país não andaria.
Ou melhor, andaria como uma pessoa que tem uma pedra no sapato ou um carro com
roda presa.
A realidade mostrou que algo é possível. Um projeto que
criminalizava vítimas de estupro foi barrado. Outro que colocava em perigo o
uso público das praias também naufragou. Finalmente, a PEC da Blindagem foi
enterrada.
Mas isso é pouco. São apenas reações quando as coisas ficam
escandalosas demais. Era preciso um bom Congresso para fiscalizar o governo,
criar bons projetos, abrir novas perspectivas para o país.
Se isso não acontecer, o absurdo do mundo nos engolfará.
Será impossível uma ilha de nexo. Escadas rolantes e teleprompters ocuparão o
espaço de nossa reflexão.
Artigo publicado no jornal O Globo em 30 / 09 / 2025


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