Ações como a do Alemão fracassam sem ocupação permanente,
fortalecimento policial e implantação efetiva do SUSP.
Todos nós ficamos perplexos e alarmados com os
acontecimentos ocorridos semanas atrás no Rio de Janeiro. A megaoperação nos
Morros do Alemão e no Complexo da Penha foi a mais letal até hoje, com 117
mortos e 2.500 policiais mobilizados. O nível de sofisticação das facções
criminosas ficou demonstrado com drones despejando granadas; fuzis,
metralhadoras e pistolas de última geração; um moderno sistema de vigilância
eletrônica do território dominado, como um Estado paralelo instalado (inclusive
“poder judiciário e penal” próprio para a comunidade dominada); e uma
capacidade inequívoca de retaliação evidenciada no caos gerado, logo após, em
artérias principais da capital fluminense. Foi revelado também que a região
funciona como QG nacional do Comando Vermelho, e ponto de acolhimento de
membros refugiados da organização vindos de diversos estados brasileiros.
À perplexidade e ao medo, seguiram-se
abundantes e polêmicas avaliações do evento. Na opinião pública, medida pelas
pesquisas, cerca de 65% apoiaram a operação policial. No mundo da política, o
governador do Rio, Claudio Castro, caracterizou como um sucesso extremo. Já o
presidente Lula cravou que a operação foi desastrosa e uma matança.
O mais importante, entretanto, é a realidade nua e crua, o
cotidiano das pessoas afetadas indiretamente e, principalmente, do enorme
percentual de cidadãos residentes nas periferias das grandes cidades
escravizado pelo crime organizado. O Rio ganha sempre destaque. No entanto,
cidades como Salvador, Fortaleza, Recife, entre outras, têm indicadores de
criminalidade muito mais graves do que o Rio.
Não sou especialista. Neste sentido, procurei ouvir quem
entende do riscado e é uma das maiores e mais respeitadas cabeças na área, o
ex-ministro da Defesa e da Segurança Pública, Raul Jungmann.
Num resume pobre, em função do espaço do artigo, vão algumas
das opiniões de Jungmann na LIVE que participei. Se não resolvermos o problema
do sistema prisional e seu controle pelas facções, não há solução sólida.
Continuarão a ser polo articulador do crime organizado e seu ponto de
recrutamento de mão de obra. Segundo, não adianta expulsar momentaneamente as
facções de seu território e não ocupar (com polícia e políticas públicas). Se
formos hoje no Alemão e na Penha provavelmente estará tudo como dantes no
quartel de Abrantes, com o CV pleno em seu domínio. Terceiro, não contem com as
Forças Armadas para as ações repressivas. Seu papel e vocação são outros, são
treinados para a guerra convencional, para matar, não para ações de segurança
pública, em ambiente urbano. Consequentemente, há que se qualificar e
fortalecer as forças policiais estaduais (civil e militar). Quarto, ações de
inteligência procurando matar a economia do crime organizado e a entrada de
armas e drogas no país são essenciais. Por último, e mais importante, implantar
o SUSP (Sistema Único de Segurança Pública) – que ele como ministro criou – com
a integração de governos, instituições e sociedade, num esforço comum para
derrotar as facções criminosas.
Não há saídas fáceis para problemas complexos. Oxalá a atual
discussão do projeto de lei das facções criminosas e os trabalhos da CPI do
Crime Organizado não se transformem em palco de disputas menores e demagógicas.
E provoquem a coesão e os consensos necessários em torno tão grande desafio.


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