Prisão é um risco permanente para quem se lança na
política. O normal é cumprir um curto pedaço da pena, depois encontrar o
caminho para a liberdade
A luta parlamentar que ocorre no Congresso em torno da
aprovação do Marco Legal do Combate ao Crime Organizado é apenas uma faceta da
disputa entre governo e oposição pela apropriação da narrativa sobre quem
combate melhor o crime organizado ou desorganizado. Os brasileiros já
manifestaram em diversas pesquisas de opinião que o maior problema brasileiro
na atualidade é a criminalidade. E a administração do PT é percebida como
leniente com os meliantes, considerados pessoas perseguidas pelo sistema econômico
injusto. Essa curiosa visão da sociedade coloca toda comunidade em risco,
porque a dona de casa que vai ao supermercado está ameaçada pela bandidagem.
Ninguém gosta disso.
O fenômeno é representado no plano da
política pelo surgimento do grupo de governadores de oposição, ou de direita.
Eles pretendem aumentar penas e corrigir distorções que a mão leve do PT
pretende introduzir no texto da prevenção do crime. Segurança é o ponto fraco
do presidente Lula. É seu calcanhar de Aquiles. A vida de Lula já foi melhor.
As últimas pesquisas de opinião demonstram que a distância entre ele e os
principais candidatos de oposição está se reduzindo. É a fotografia do
momento.
O cenário da sucessão presidencial ainda esconde alguns
ingredientes. Jair Bolsonaro está inelegível, além de condenado a uma longa
pena de prisão pelo Supremo Tribunal Federal. Ou seja, ele está fora da eleição
em 2026. A não ser que aconteçam surpresas muito surpreendentes nos próximos
meses, Bolsonaro vai para a cadeia cumprir o mesmo destino de alguns políticos
que tiveram momentos exitosos e espetaculares na política nacional. Fernando
Collor, por exemplo, hoje vive recluso em Alagoas. Do ponto de vista político,
ele perdeu capacidade de influir até na política estadual. Foi um cometa que
surgiu na linha do horizonte, causou alvoroço e, depois, continuou sua
caminhada em direção a coisa nenhuma.
Eduardo Bolsonaro continua a viver nos Estados Unidos.
Perdeu influência junto a Donald Trump. E murchou. Não tem mais o que
fazer lá. Aqui, corre o sério risco de ter o mandato cassado, porque ele
trabalhou contra o país. É crime de lesa-pátria. Em qualquer cenário, ele vai
pagar um preço elevado por sua campanha contra o Brasil nos Estados Unidos.
Flávio Bolsonaro, senador, é mais tranquilo. Derrapa, às vezes, mas tenta ser
um negociador. A questão é quantos votos de Bolsonaro ainda permanecerão vivos.
Ou seja, quem ainda apoia o ex-presidente. Naturalmente, deverão surgir novas
lideranças na direita, que tenderão a tomar o espaço de Jair Bolsonaro. Devem
sair do grupo de governadores de oposição. Eles pretendem controlar a indicação
do candidato contra Lula. Vai ser uma disputa interessante. Lula com a caneta e
o poder, a direita brasileira tem dinheiro e votos.
Mas o Brasil é parte da América Latina, onde tudo pode
acontecer. Lula ficou preso 580 dias, deixou a prisão e retornou à Presidência
da República. Temer ficou preso algumas horas, mas experimentou ver o dia atrás
das grades. Prisão é um risco permanente para quem se lança na política. Todos
os ex-governadores do Rio de Janeiro passaram pela prisão. O normal é cumprir
um curto pedaço da pena, depois encontrar o caminho para a liberdade. O
ex-presidente da França, Nicolas Sarkozy, viu o sol nascer quadrado por 20
dias. Depois, saiu e foi jantar em bom restaurante parisiense com sua Carla
Bruni. Com Bolsonaro, deve-se cumprir o mesmo roteiro: um tempo atrás das
grades e, depois, liberdade sob condições. Ele já estará com idade avançada e
saúde comprometida. Seu futuro político está nos filhos.
Só para esclarecer: quem nasce na Amazônia é amazônida. Quem
nasce no estado do Amazonas é amazonense. Belém fica no estado do Pará, que não
é o centro da Amazônia. A cidade foi a capital do estado do Grão-Pará e
Maranhão, ao tempo em que a colônia do Brasil era dividida em dois estados: o
do Grão Pará e o do Brasil. Grão Pará abrangia os atuais estados do Amazonas,
Pará, Maranhão e Piauí. Do Rio Grande do Norte para baixo tudo era
Brasil.
Segundo o IBGE, a população da Amazônia é de 27 milhões de
habitantes. A primeira capital do estado do Amazonas foi Barcelos. Depois, a
capital foi transferida, em outubro de 1669, para Manaus, local onde os rios
Negro e Solimões se encontram e fazem o Rio Amazonas. No episódio da
Independência do Brasil, a população do Grão Pará queria continuar ligada a
Portugal, como era até aquela data. Militares enviados pelo almirante Cochrane
ameaçaram bombardear Belém, em agosto de 1823, e obrigaram os locais a aderir à
jovem República brasileira. Ou seja, os amazônidas se tornaram brasileiros à
força, depois da Independência do Brasil.


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