Estudo mostra que os apaixonados políticos são minoria
barulhenta e eleitoralmente insignificante
O problema é que a maioria não engajada não tem (ainda?)
alguém que seja capaz de representá-la
Direita e esquerda, da forma como se apresentam hoje, não
caem nas graças da maioria. A dita polarização tampouco.
Um passeio pela vida real dá a dimensão do que se passa longe da internet e do
noticiário que reverbera as vozes engajadas.
Foi o que fizeram os pesquisadores Pablo Ortellado e Felipe
Nunes ao elaborar um estudo com
duas centenas de perguntas a 10 mil brasileiros. O resultado traduziu a
realidade em números: os apaixonados extremos são 11%, e os levemente
enamorados, 35% —enquanto 54% estão na pista, no aguardo de quem lhes desperte
o interesse.
Pelo demonstrado, temos que a minoria
barulhenta, embora insignificante em termos eleitorais, acaba conduzindo a
eleição para a tal disputa de rejeições. Isso apesar de a quase totalidade do
eleitorado ser permeável a escolhas diferentes das já oferecidas.
E é na ausência de gente capaz de encarnar uma nova bossa da
conquista que a coisa enrosca e mantém o país preso a uma lógica em que a
escolha do presidente se dá mais pelo medo de errar do que pela vontade de
acertar.
Daí os índices de abstenção, votos nulos e brancos, diante
da ausência de estímulo à maioria desinteressada em entrar numa guerra por
ídolos de estimação, hoje simbolizados nas figuras de Luiz Inácio da Silva (PT)
e Jair
Bolsonaro (PL). Ambos gastos pelo tempo e por outras circunstâncias.
A existência de vasto eleitorado à deriva esbarra na
inexistência de postulantes fluentes no idioma das demandas por um Estado que
proteja a população, mas não atrapalhe e ofereça serviços públicos decentes,
com governantes atentos aos cidadãos, que não os vejam como massa de manobra
eleitoral e os incluam em projetos de desenvolvimento do país.
Os estrategistas de campanha sabem disso. O problema é que
na receita falta o ingrediente principal: matéria-prima de qualidade. Assim
como eleitor silencioso, os bons pretendentes a eleitos certamente estão por
aí. Na encolha, sem espaço nem disposição para enfrentar o barulho dos
extremos.


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