Redução de penas foi aprovada mediante truques de
interpretação, acertos questionáveis e falsas alegações
Não haverá moderação enquanto as correntes radicalizadas
sobreviverem à custa do uso das armas de guerra
A aprovação no Congresso
Nacional do projeto de lei que reduz
as penas dos condenados por tentativa de golpe de Estado não apaga as
seguintes distorções: o caráter casuístico da matéria, a deslavada troca de
interesses entre governo
e oposição, o atropelo do regimento e a falsidade da alegação de que o
gesto marcaria o início da pacificação entre as correntes radicalizadas do
país. Mero conto do vigário.
O Congresso alterou a lei de execuções
penais para beneficiar pessoas condenadas. Pretendeu, com isso, modificar
decisões do Supremo Tribunal Federal, que ainda vai examinar o caso, mas a
intenção do Legislativo atendeu a interesses de um grupo político. De oposição,
mas com apoio do governo, cujo cinismo promete veto.
O Senado fez
uma leitura marota do conceito de emenda de redação e ignorou os alertas de
senadores mais responsáveis sobre os defeitos do texto. Houve um toma lá dá cá
negociado na noite anterior à votação, mediante o qual a oposição garantiria
votos para o aumento de fontes de arrecadação no valor de R$ 20 bilhões.
Não há argumento pacificador capaz de se sustentar ante a
seguinte clareza: não existe paridade de condições entre agressor e agredido.
Os condenados desferiram ataques dos quais a institucionalidade se defendeu.
Não houve sinal de arrependimento da parte dos agressores,
admissão de culpa ou de compromisso de não repetirem os atos de grave
desobediência civil. Ao contrário, reivindicam o perdão como prova de que nada
fizeram de errado.
Portanto, podem fazer de novo sem que nada de mais grave
lhes aconteça. Haverá sempre uma condescendência à espreita para perdoá-los em
nome de uma paz que não virá enquanto estiver em disputa a bandeira da
hegemonia cultural e política.
Não haverá moderação possível no horizonte enquanto
prevalecer a lógica da guerra entre os que não têm ferramentas nem disposição
para depor as armas e construir ambiente propício a diálogos baseados em
preceitos de natureza republicana.


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