Se os cidadãos perderem a confiança nos ministros do
Supremo, a democracia estará em dificuldades. A credibilidade já ficara
arranhada no caso da Operação Lava-Jato.
Nunca ficou tão claro quanto agora a necessidade de um
Código de Conduta para o Supremo Tribunal Federal (STF). Uma coincidência
benfazeja faz com que a presidência do Supremo esteja sendo exercida neste
momento delicado pelo ministro Edson Fachin, que há anos defende tal código.
Não é por acaso que Cortes Supremas de países como os Estados Unidos e a
Alemanha fizeram o seu Código de Conduta em anos recentes, pois está ficando
claro que os ministros, sem ter quem os controle, estão se perdendo em atitudes
pessoais condenáveis. O contrato milionário da mulher do ministro Alexandre de
Moraes com o Banco Master é um exemplo, mas são inúmeros os ministros de cortes
superiores cujos filhos, mulheres e parentes driblam conflitos de interesse
apoiados por uma mudança de legislação feita pelos próprios ministros.
Se os cidadãos perderem a confiança nos
ministros do Supremo, a democracia estará em dificuldades. A credibilidade já
ficara arranhada no caso da Operação Lava-Jato, pois os ministros do Supremo
não se limitaram a barrar as ilegalidades que apontaram na relação do então
Juiz Moro com os procuradores de Curitiba. Anularam todos os processos,
liberaram todos os réus, mesmo os confessos, começaram a devolver dinheiro para
os que admitiram que roubaram.
Além do decano Gilmar Mendes, que se gaba de ter sido o
responsável pelo fim da Lava-Jato, o ministro Dias Toffoli tem se dedicado nos
tempos recentes a anular os processos da Lava-Jato. Mas não se limita a esse
caso. Tem tomado decisões polêmicas no caso do Banco Master, tantas e tão
discutíveis que chamam a atenção. Desde o momento em que tomou a si o processo
sob a alegação de que uma pessoa com foro privilegiado aparecera nas
investigações, até a acareação entre representante do Banco Central e o ex-banqueiro
Daniel Vorcaro, tudo tem sido contestado, não só por políticos ou jornalistas,
mas sobretudo por especialistas no Direito.
Um documento sobre negócios do deputado federal João Carlos
Bacelar com Vorcaro, em caráter pessoal, foi a justificativa de Toffoli para
avocar ao STF o caso, dias depois de ter viajado em jatinho particular em
companhia de um advogado do Banco Master para ver a final da Libertadores em
Lima. Uma conduta reprovável, a carona que se tornou hábito entre magistrados
acumulou irregularidades.
A decretação de sigilo no mais alto grau foi a medida
seguinte, que paralisou as investigações. Supreendentemente, Toffoli convocou
uma acareação em pleno recesso do Congresso para contrapor versões entre os
investigadores e o investigado, numa atitude que foi considerada pelo próprio
Procurador-Geral da República, Paulo Gonet, precipitada, pois os depoimentos
oficiais ainda não haviam sido tomados. Onde estariam as contradições a serem
dissipadas pela acareação?
A estranheza das decisões do ministro Dias Toffoli fez
crescer o temor de que alguma medida extrema estaria sendo tramada nos
bastidores para caracterizar como ilegal a liquidação do Banco Master. O
próprio presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, havia dado uma
declaração, que a muitos pareceu extemporânea, sobre a investigação, afirmando
que atenderia a qualquer convocação para explicar seus detalhes e as razoes
técnicas para a liquidação. Por que o ministro Toffoli não pediu essas
explicações diretamente a Galípolo?
A possibilidade de que a acareação de Toffoli tenha o mesmo
objetivo da decisão do ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Jhonatan
de Jesus, que considerou precipitada a decisão do BC de liquidar o Master, “uma
medida extrema”. Assim como o ministro do STF não tem razão técnica para
convocar uma acareação, que o Banco Central já questionou formalmente, também o
ministro do TCU não tem nenhum mandato para pedir explicações do BC. O mercado
financeiro teme que esses movimentos inusitados tenham o objetivo de anular a
liquidação, devolvendo o Banco Master a Daniel Vorcaro, que, além da
tornozeleira eletrônica que ostenta, continua ostentando também uma influência
política invejável.


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