Ex-diretor da PRF, Silvinei tentou fugir da cadeia, mas
foi parado na blitz
Bolsonarista levou 24 anos de prisão por tentar impedir
pobres de votar em 2022
Silvinei Vasques aproveitou a bruma natalina para dar no pé.
Condenado a 24 anos e meio de prisão, o ex-diretor da Polícia Rodoviária
Federal dispensou o peru e as rabanadas. Deu uma banana para a Justiça, quebrou
a tornozeleira eletrônica e fugiu do país. Foi interceptado no Paraguai, onde
tentava embarcar num avião para El Salvador.
Bolsonarista de carteirinha, o fujão foi sentenciado por
outro episódio vergonhoso: a montagem de bloqueios policiais para impedir
eleitores pobres de votar em 2022.
As investigações comprovaram a trama em detalhes. A poucos
dias da votação, Silvinei reuniu subordinados e informou que era chegada a hora
de a PRF “tomar lado” na corrida presidencial. Ele já havia dado o mau exemplo
ao participar de motociatas e usar a farda para fazer campanha pelo capitão.
Capturada pelo bolsonarismo, a polícia
planejou uma operação para tumultuar as rodovias e inflar a abstenção no
segundo turno. O plano era dificultar o acesso às urnas em locais onde Lula
tendia a receber mais votos, especialmente no Nordeste. Para isso, foi usado um
relatório de inteligência com base em dados da Justiça Eleitoral.
Na véspera da votação, o Tribunal Superior Eleitoral proibiu
as barreiras. Mesmo assim, a PRF foi mobilizada para segurar ônibus e vans, a
pretexto de fiscalizar pneus carecas e faróis queimados. Até um senador foi
parado numa blitz ilegal. A operação só foi suspensa depois que o ministro
Alexandre de Moraes ameaçou dar voz de prisão a Silvinei.
O ex-delegado não se notabilizou pela bravura. Nos últimos
dias do governo Bolsonaro, antecipou a aposentadoria para não responder a
sindicâncias no novo governo. Calçou os chinelos aos 47 anos, com salário
integral. Preso em agosto de 2023, reclamou da comida da Papuda e se disse
“deprimido”. Mais tarde, tentaria se apresentar como vítima de uma “tempestade
midiática”.
O ex-diretor da PRF nunca admitiu seus crimes. Embora jamais
tenha se empenhado para escondê-los. Ao julgá-lo, o ministro Flávio Dino
identificou a prática do “exibicionismo do malfeito”. “Tudo (foi feito) à luz
do dia. Como se houvesse orgulho da ilicitude”, observou.
Correr da aplicação da lei é outro traço comum aos
extremistas nativos. Eduardo Bolsonaro puxou o bloco dos fujões. Foi seguido
pelos colegas Carla Zambelli e Alexandre Ramagem. Agora o trio ganhou a
companhia de Silvinei. Mais desastrado, o ex-chefe da PRF ainda imitou o
ex-presidente ao investir contra a tornozeleira. Terminou preso com passaporte
falso no aeroporto de Assunção.
A investigação deve esclarecer como o golpista saiu do
Brasil e se ele teve cúmplices na empreitada. Também seria interessante saber
por que ele escolheu El Salvador como destino. O país de Nayib Bukele virou
fetiche da ultradireita. Tem atraído parlamentares e pré-candidatos ansiosos
para gravar vídeos de propaganda em frente a um megapresídio. No caso de
Silvinei, o turismo carcerário terá que ficar para depois. O bolsonarista da
PRF foi parado na blitz.


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