Escolha de Flávio mostra que prioridade de Bolsonaro é
manter a franquia familiar
Candidatura do Zero Um divide as direitas e vira pesadelo
para Faria Lima e Centrão
A Faria Lima sonhou com Tarcísio de Freitas e acordou com
Flávio Bolsonaro. O capitão frustrou quem esperava que ele entregasse seu
espólio de votos a um político com outro sobrenome. Na sexta-feira, Jair
informou à praça que o candidato é o Zero Um.
Só quem não conhece o ex-presidente acreditou que ele
facilitaria o jogo para o consórcio que une os donos do PIB ao Centrão.
Bolsonaro nunca deu bola a partidos, acordos ou expectativas alheias. Sempre
agiu pela lógica do clã. No poder, descartou e humilhou aliados que
atravessaram o caminho dos filhos. Na cadeia, deixa claro que só confia na
prole.
Flávio não é um pesadelo para o
establishment por suas virtudes. Nem pela ausência delas. O que amedronta são
as pesquisas que apontam uma rejeição tóxica aos herdeiros do capitão. Ao ungir
o filho, Bolsonaro mostra que sua prioridade não é derrotar Lula. O plano é
evitar o fechamento da franquia familiar, mesmo que isso signifique perder a
eleição de 2026.
Mercado e Centrão tinham outras razões para preferir
Tarcísio. O governador de São Paulo é visto como um político manobrável. Não
criaria problemas nem questionaria acordos fechados na campanha. A exemplo dos
irmãos, Flávio só deve obediência ao pai. Para cumprir suas ordens, não
hesitaria em contrariar aliados e patrocinadores.
O currículo do Zero Um é notável. Em 16 anos na Assembleia
Legislativa do Rio, ele se destacou por empregar parentes de milicianos e por
ir à cadeia condecorar um matador de aluguel. Nas horas vagas, macaqueou a
pregação de Jair a favor da ditadura e da violência policial.
Em 2018, soube-se que o ex-PM Fabrício Queiroz operava um
esquema de rachadinha no gabinete de Flávio na Alerj. O Ministério Público
identificou os laranjas e denunciou o Zero Um por organização criminosa,
peculato, ocultação de bens e lavagem de dinheiro. O caso foi arquivado depois
que o Supremo anulou provas obtidas em relatórios financeiros do Coaf.
Senador há sete anos, o Zero Um tem usado o mandato como
trincheira para defender o pai. Seu grande feito em Brasília foi comprar uma
mansão por R$ 6 milhões no Lago Sul. Questionado sobre a origem dos recursos,
ele disse atuar como advogado, mas se recusou a divulgar a lista dos supostos
clientes.
A escolha de Flávio representa uma boa notícia para o
governo. Sua candidatura divide as direitas e reduz as chances de um palanque
robusto contra Lula. Com Tarcísio fora do jogo, as máquinas partidárias do
Centrão tendem a abandonar a corrida ao Planalto para se concentrar nas
eleições para o Legislativo. Tendo um Bolsonaro como adversário, o petismo
poderá resgatar o discurso da frente ampla, que embalou a vitória em 2022.
Se a candidatura do Zero Um não for um balão de ensaio a ser
esvaziado até março, os marqueteiros do clã terão trabalho para investi-lo da
imagem de presidenciável. O primeiro desafio é treiná-lo para enfrentar um
debate sem desmaiar.


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