Seja quem for o eleito em 2026, uma boa administração
deverá incluir atenção especial à renovação da indústria e, se possível, à
modernização de todo o sistema produtivo
Professoras descreviam o Brasil, há 70 anos, como um país
essencialmente agrícola, sem levar em conta, aparentemente, o enorme
investimento em industrialização. A indústria cresceu, ganhou destaque entre as
economias emergentes e sobreviveu a crises locais e globais, mas voltou a ser,
no século 21, bem menos vigorosa que a agropecuária e os serviços. No país
governado pela terceira vez pelo ex-metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva, o
setor industrial volta a mostrar-se emperrado, com crescimento de 1,7% nos nove
meses até setembro, enquanto a produção rural aumentou 11,6% e a dos serviços,
2,8%.
Sem o enorme vigor da agropecuária, a expansão econômica até
o fim do terceiro trimestre teria sido bem inferior aos 2,4% registrados
oficialmente. Sem esse componente, o avanço de 2,26% estimado para o Produto
Interno Bruto (PIB) neste ano seria quase inimaginável. Além de registrar essa
estimativa, a pesquisa Focus também aponta, para 2026, a projeção de 1,80%, um
número aparentemente medíocre, ou abaixo disso, para um grande país emergente.
Mas a mediocridade combina com algumas características importantes do Brasil.
Observada na maior parte deste quarto de
século, uma dessas características é a baixa taxa de investimento produtivo,
isto é, de capital aplicado em máquinas, equipamentos e obras. No terceiro
trimestre, a soma investida equivaleu a 17,3% do PIB, segundo o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Nem sequer a taxa de 18%, por
muito tempo considerada um padrão nacional, vem sendo mantida regularmente
neste século. Mesmo esses 18% seriam inferiores ao padrão observado em outros
grandes emergentes.
Para investir mais e com maior eficiência, o País precisaria
de aplicação mais produtiva de recursos públicos, de juros mais baixos e de
perspectivas melhores e mais seguras de crescimento econômico. Juros mais
baixos e mais compatíveis com maior investimento produtivo dependeriam de
cenários mais positivos e mais seguros para a elaboração da política monetária.
Os condutores dessa política – dirigentes do Banco Central
(BC) – mencionam com frequência a insegurança dos investidores e, afinal, deles
mesmos em relação às contas públicas, à inflação e às condições dos negócios no
Brasil. Não há como escapar desse atoleiro sem um esforço claro e confiável das
autoridades em busca de um emprego mais prudente e mais eficaz do dinheiro
público. Isso dependerá, em primeiro lugar, de um chefe de governo menos
voluntarioso e mais atento às condições de segurança financeira da
administração federal.
O presidente Lula já se mostrou, em algumas ocasiões, capaz
de entender o valor da prudência financeira e de seguir padrões de cautela e de
produtividade no uso de recursos. Mas nem sempre obedece a esses padrões, como
se voltasse a ser dominado, de tempos em tempos, pela velha identificação
petista entre governo e gastança. Quando isso ocorre, passa a desprezar as
advertências e sinalizações de seus auxiliares mais preparados e mais
prudentes. O risco tende a crescer quando se misturam mais intensamente, como
parece ocorrer neste momento, a administração e a campanha eleitoral.
Essa mistura pode render alguns efeitos positivos, no curto
ou no curtíssimo prazo, mas a busca desses efeitos, com objetivos eleitorais,
pode comprometer dinheiro sem resultados de alcance relevante. Um pequeno grupo
de ministérios vem trabalhando pela modernização do sistema produtivo, mas a
chefia do governo tem mostrado pouco empenho na valorização desse esforço.
Um maior comprometimento da Presidência poderia, quase
certamente, resultar em maior envolvimento do setor privado. A administração
federal, nesse caso, tenderia a liderar um movimento amplo e mais organizado de
transformação e de fortalecimento do sistema produtivo. Mas isso dependeria,
como parece evidente, de uma clara definição de objetivos e de uma eficiente
articulação de programas e de políticas. Dependeria, enfim, da montagem de um
conjunto de objetivos e de ações segundo os bons padrões de planejamento.
Curiosamente, a velha noção de planejamento, valorizada por figuras ilustres do
antigo PT, parece hoje quase ignorada pela Presidência petista.
Em busca de um quarto mandato, o presidente Lula poderá
entrar em 2026, ano eleitoral, sem um claro e bem elaborado programa para um
novo período. Na ausência de um forte competidor, talvez a candidatura petista
seja sustentável com promessas de continuação e de alguns avanços em programas
selecionados. Isso poderá mudar, mas, por enquanto, esse é um quadro provável.
Se um competidor surgir, no entanto, e tiver sucesso contra Lula, meses serão
consumidos na implantação de um novo roteiro governamental. A democracia tem
custos e parte deles está associada à renovação de equipes, planos e programas.
Seja quem for o eleito, uma boa administração deverá incluir
atenção especial à renovação da indústria e, se possível, à modernização de
todo o sistema produtivo. Nem um presidente reeleito escapará de trabalho mais
pesado na fase inicial.


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