Um vídeo gravado em audiência pública com produtores rurais,
em Vicente Dutra (RS), registra discursos de deputados da bancada ruralista
estimulando que agricultores usem de segurança armada para expulsar indígenas
do que consideram ser suas terras.
“Nós, os parlamentares, não vamos incitar a guerra, mas lhes
digo: se fartem de guerreiros e não deixem um vigarista desses dar um passo na
sua propriedade. Nenhum! Nenhum! Usem todo o tipo de rede. Todo mundo tem
telefone. Liguem um para o outro imediatamente. Reúnam verdadeiras multidões e
expulsem do jeito que for necessário”, diz o deputado Alceu Moreira (PMDB-RS).
“A própria baderna, a desordem, a guerra é melhor do que a injustiça”, defende.
Ele afirma que o movimento pela demarcação de terras
indígenas seria uma “vigarice orquestrada” pelo ministro da Secretaria Geral da
Presidência da República, Gilberto Carvalho. Moreira diz também que tal
movimento seria patrocinado pelo Ministério Público Federal, o qual, segundo
ele, defenderia a “injustiça”.
No vídeo, o presidente da Frente Parlamentar da
Agropecuária, deputado federal Luís Carlos Heinze (PP-RS), diz que índios,
quilombolas, gays e lésbicas são “tudo que não presta”.
“Quando o governo diz: ‘nós queremos crescimento,
desenvolvimento. Tem de ter fumo, tem de ter soja, tem de ter boi, tem de ter
leite, tem de ter tudo, produção’. Ok! Financiamento. Estão cumprimentando os
produtores: R$ 150 bilhões de financiamento. Agora, eu quero dizer para vocês:
o mesmo governo, seu Gilberto Carvalho, também é ministro da presidenta Dilma.
É ali que estão aninhados quilombolas, índios, gays, lésbicas. Tudo o que não
presta ali está aninhado”, discursa Heinze.
Ele também sugere a ação armada dos agricultores. “O que
estão fazendo os produtores do Pará? No Pará, eles contrataram segurança
privada. Ninguém invade no Pará, porque a brigada militar não lhes dá guarida
lá e eles têm de fazer a defesa das suas propriedades”, diz o parlamentar. “Por
isso, pessoal, só tem um jeito: se defendam. Façam a defesa como o Pará está
fazendo. Façam a defesa como o Mato Grosso do Sul está fazendo. Os índios
invadiram uma propriedade. Foram corridos da propriedade. Isso aconteceu lá”.
Promovida pelo também deputado ruralista Vilson Covatti
(PP-RS), que pertence à Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e
Desenvolvimento Rural (CAPADR) da Câmara, a audiência pública aconteceu em
novembro do ano passado e seu tema foi o conflito dos produtores rurais com os
indígenas do povo Kaingang, que vivem na Terra Indígena Rio dos Índios, de 715
hectares.
Em dezembro do ano passado, produtores rurais do Mato Grosso
do Sul organizaram um leilão para arrecadar recursos para a contratação de
seguranças privados para impedir a ocupação de comunidades indígenas. O evento
recolheu mais de R$ 640 mil e foi apoiado pela bancada ruralista. Parlamentares
como a senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), presidente da Confederação da
Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), estiveram presentes e defenderam a
iniciativa.
Veja o vídeo.
Do Blog da Apib – Articulação dos Povos Indígenas do Brasil
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