Por Cilene Victor, via Facebook
Tentei dormir, mas não consegui porque alguma coisa me
intrigava e por isso voltei para escrever essas palavras.
O menino acorrentado em um poste no Rio de Janeiro voltou à
cena e, para o delírio da sociedade miliciana, foi flagrado tentando cometer
delitos.
Para muitos, mazelas sociais são facilmente resolvidas com
apreensão, prisão, punição, redução da maioridade penal e linchamento moral e
físico.
Falando em linchamento, não vai demorar muito para alguém me
chamar de vadia por causa destas palavras.
O que torna a nossa sociedade mais sombria que aquela de
Karl Jaspers, Martin Heidegger, Walter Benjamin e Bertolt Brecht, quatro dos
nomes retratados no fabuloso "Homens em Tempos Sombrios", de Hannah
Arendt?
Talvez a resposta esteja na mediocridade dos que têm voz,
inclusive nos meios de comunicação, alcançando picos de autoridade e fazendo
ecos sem resistência.
Para Jasper, uma das grandes influências de Hannah Arendt, a
capacidade crítica de alguns seres serve como resistência às garras
exterminadoras do totalitarismo.
Nesta linha de Jasper, a escassez de seres com capacidade
crítica significaria uma grande ameaça à sociedade, expondo-a ferozmente às
garras do totalitarismo.
Na minha primeira aula de Jornalismo Opinativo, discutimos
que não existe "todo mundo" e que como jornalistas, honestos, não
podemos vestir a sociedade como opinião pública e, tampouco, fazer a opinião
pública se passar por sociedade.
Como honestidade é mais fácil de alcançar do que a ética,
então, o exercício parece bem fácil.
Gostaria que a existência de jornalistas milicianos, de
educadores milicianos, de religiosos milicianos, de políticos milicianos fosse
apenas o fim de um tempo e que a resistência dos que pensam fizesse dele apenas
um passado constrangedor.
Cilene Victor, professora de jornalismo na Faculdade Cásper
Líbero e comentarista do Jornal da Cultura.
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