sábado, 2 de dezembro de 2017

O PERIGO DOS REMÉDIOS FALSOS

Priscila Carvalho, ISTOÉ
Um em cada dez medicamentos comercializados em países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento é de qualidade inferior ou falsificado. É o que aponta o relatório divulgado na semana passada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Entre os fármacos mais adulterados estão os de combate à malária e os antibióticos.
O número é alarmante e chama atenção para um mercado clandestino que cresce e movimenta cerca de US$ 30 bilhões por ano no mundo. No Brasil, as apreensões de remédios irregulares pela Polícia Federal são frequentes, mas nenhum órgão envolvido na questão, incluindo aqui a própria PF e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), sabem dizer qual o tamanho do problema.
A única referência que se tem por aqui vem de um relatório da OMS de 2015. Segundo a entidade, 19% dos produtos farmacêuticos vendidos no País são ilegais: ou são falsos ou adulterados, ou seja, ineficazes, ou roubados, o que na maioria dos casos quer dizer que podem ter sido violados ou estão com validade vencida, por exemplo.
O uso de produtos assim agrava doenças e pode levar à morte. De acordo com a OMS, 72 mil mortes de crianças por pneumonia podem ser atribuídas ao uso de antibióticos com atividade reduzida, total que sobe para 169 mil mortes se os remédios forem inócuos. Além disso, alguns componentes adulterados podem provocar alergias graves.
“Criminosos utilizam corantes como o iodo para amarelar os remédios”, afirma Anthony Wong, diretor médico do Centro de Assistência Toxicológica do Hospital das Clínicas de São Paulo. “Isso é extremamente tóxico.” Depois de anos de atrasos, em 2016 foi sancionada no Brasil uma nova lei de rastreabilidade de remédios, permitindo o acompanhamento pela Anvisa do caminho das medicações de sua fabricação até o consumidor.
A legislação estabeleceu o prazo de quatro anos e oito meses para início do programa a partir de sua regulamentação, ocorrida só em agosto. “Há muita demora nesses prazos de adequação”, critica José Luis Miranda, coordenador da assessoria técnica do Conselho Federal de Farmácia. “O sistema atual é sujeito a fraudes e permite um número alto de falsificação”, lamenta.
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