Priscila Carvalho, ISTOÉ
Um em cada dez medicamentos comercializados em países
subdesenvolvidos ou em desenvolvimento é de qualidade inferior ou falsificado.
É o que aponta o relatório divulgado na semana passada pela Organização Mundial
da Saúde (OMS). Entre os fármacos mais adulterados estão os de combate à
malária e os antibióticos.
O número é alarmante e chama atenção para um mercado
clandestino que cresce e movimenta cerca de US$ 30 bilhões por ano no mundo. No
Brasil, as apreensões de remédios irregulares pela Polícia Federal são
frequentes, mas nenhum órgão envolvido na questão, incluindo aqui a própria PF
e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), sabem dizer qual o
tamanho do problema.
A única referência que se tem por aqui vem de um relatório
da OMS de 2015. Segundo a entidade, 19% dos produtos farmacêuticos vendidos no
País são ilegais: ou são falsos ou adulterados, ou seja, ineficazes, ou
roubados, o que na maioria dos casos quer dizer que podem ter sido violados ou
estão com validade vencida, por exemplo.
O uso de produtos assim agrava doenças e pode levar à morte.
De acordo com a OMS, 72 mil mortes de crianças por pneumonia podem ser
atribuídas ao uso de antibióticos com atividade reduzida, total que sobe para
169 mil mortes se os remédios forem inócuos. Além disso, alguns componentes
adulterados podem provocar alergias graves.
“Criminosos utilizam corantes como o iodo para amarelar os
remédios”, afirma Anthony Wong, diretor médico do Centro de Assistência
Toxicológica do Hospital das Clínicas de São Paulo. “Isso é extremamente
tóxico.” Depois de anos de atrasos, em 2016 foi sancionada no Brasil uma nova
lei de rastreabilidade de remédios, permitindo o acompanhamento pela Anvisa do
caminho das medicações de sua fabricação até o consumidor.
A legislação estabeleceu o prazo de quatro anos e oito meses
para início do programa a partir de sua regulamentação, ocorrida só em agosto.
“Há muita demora nesses prazos de adequação”, critica José Luis Miranda,
coordenador da assessoria técnica do Conselho Federal de Farmácia. “O sistema
atual é sujeito a fraudes e permite um número alto de falsificação”, lamenta.
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