Pois então é véspera. Véspera de mais alguma coisa. De um
peru, de um futuro, de um veludo vermelho e quente sob um abacaxi tropical.
Véspera de Natal, de pseudo-encantamento , de trégua ao tormento, véspera
de cerveja no isopor e de intoxicação alimentar.
Então segue sendo véspera de alumbramento, de renovação de
esperanças, de destemperanças travadas durante o ano, de retratos revistos que
doem nas almas. Vésperas de recordações passadas, recordações das casas dos
nossos mortos, de cais que já não ancoram navios remotos, vésperas de velhos
natais não festejados em alto mar quando a legião de imigrantes que somos se
aproximavam das costas do porto de Santos.
Pois as vésperas subiram as serras, ancoraram em cidades,
colocaram flores nos jarros, rezaram pais nossos ao lado das rabanadas, pediram
aos santos e santas mais prosperidades nos altares. Mais do que natais eu gosto
das vésperas. Porque elas sempre são o que está por vir e não a ressaca de um
natal que passou com a certeza de que seguimos sendo quem somos. Mortais de
ossos frágeis a serem mal compilados em livros de histórias.
Ricardo Soares é diretor de tv, roteirista, escritor e
jornalista. Publicou 8 livros, dirigiu 12 documentários.
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