O ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo
Bebianno (PSL), foi demitido do cargo pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) na
maior crise enfrentada pelo governo menos de dois meses depois da
posse. Seu sucessor será o atual secretário-executivo da pasta, general
Floriano Peixoto.
O impasse sobre a possível saída do ministro do governo se
arrastou por quase uma semana. A decisão foi oficializada hoje pelo porta-voz
da Presidência, general Otávio do Rêgo Barros, em declaração à imprensa.
"O excelentíssimo senhor presidente da República, Jair
Messias Bolsonaro, decidiu exonerar nesta data do cargo de ministro da
Secretaria-Geral da Presidência o senhor Gustavo Bebianno Rocha. O presidente
agradece sua dedicação à frente da pasta e deseja sucesso na nova
caminhada", declarou o porta-voz.
Questionado sobre o motivo da demissão, Rêgo Barros disse
que a razão é "de foro íntimo do nosso presidente".
"As decisões em relação à exoneração e nomeação de
ministros são de responsabilidade de nosso presidente. Não me cabe avançar em
suposições", sobre se são dois pesos e duas medidas quanto ao outro
ministro (Marcelo Álvaro Antônio) não ter sido demitido.
A expectativa é que a exoneração de Bebianno seja publicada
na edição regular do Diário Oficial da União desta terça (19).
Ao contrário do esperado na semana passada, segundo
assessores do próprio Bolsonaro, a exoneração não foi publicada no Diário
Oficial de hoje. Bolsonaro começou o dia se reunindo com o ministro-chefe da
Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM), no Palácio da Alvorada. Embora tenha de se
recuperar da cirurgia de reversão da colostomia, o presidente passou a
despachar do Planalto. A ordem era de silêncio total perante a situação do
ex-ministro entre auxiliares e aliados.
A decisão de demitir Bebianno foi tomada após reportagens da
Folha de S. Paulo indicarem que ele, então presidente do PSL durante a campanha
eleitoral, teria autorizado o repasse de verbas do fundo partidário para uma
candidata "laranja" em Pernambuco com o suposto apoio de Luciano
Bivar, atual presidente da sigla.
Maria de Lourdes Paixão, de 68 anos, concorreu ao cargo de
deputada federal e recebeu R$ 400 mil a quatro dias da eleição de 2018, sendo a
terceira maior beneficiada com verba do partido de Bolsonaro em todo o país,
mas obteve apenas 274 votos.
A prestação de contas dela, que é secretária administrativa
do PSL do estado, sustenta que 95% do valor recebido foi gasto para imprimir 9
milhões de santinhos e cerca de 1,7 milhão de adesivos em uma gráfica. No
entanto, a reportagem da Folha visitou os endereços indicados por Maria de
Lourdes e não encontrou sinais de que ali tenha funcionado o estabelecimento
indicado.
Bebianno ainda teria liberado R$ 250 mil de verba pública
para a campanha de uma ex-assessora, Érika Siqueira Santos. Parte do dinheiro
foi repassado a uma gráfica registrada em endereço de fachada.
O agora ex-ministro negou ter responsabilidade sobre os
repasses do PSL às candidaturas de "laranjas".
Como presidente do PSL e da Comissão Executiva Nacional do
partido à época do período das eleições do ano passado, ele era o responsável
por autorizar repasses dos fundos eleitoral e partidário a candidatos da sigla.
CRISE TEVE INTERFERÊNCIA DE FILHO DO PRESIDENTE
A crise no governo piorou após Bebianno dizer que mantinha
contato com o presidente Jair Bolsonaro enquanto este estava internado em São
Paulo.
Na última quarta-feira (13), um dos filhos do mandatário, o
vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), publicou em seu perfil no Twitter áudio
atribuído ao pai em que este diz não poder conversar com Bebianno. Carlos disse
ainda que seria "mentira absoluta" a conversa do político com o
presidente.
Bebianno, que é desafeto de Carlos desde a campanha
eleitoral de 2018, continuou mantendo a versão de que falou com o presidente, e
áudios de conversas que ele teria mantido com Bolsonaro chegaram à imprensa. Em
uma das conversas com Bolsonaro, o presidente se irrita ao saber que o então
ministro marcou uma reunião com um representante da TV Globo, tida como
"inimiga" do governo.
Enquanto a crise se desenrolava nas redes sociais e na
imprensa, Bebianno tentava ser recebido por Bolsonaro. Depois de dias de
"gelo", o encontro dele com Bolsonaro só ocorreu no final da tarde de
sexta-feira (15).
Na noite de sexta, Bolsonaro decidiu, então, exonerar o
ministro, decisão que só foi oficializada hoje.
Sem citar Bolsonaro, no mesmo dia, Bebianno publicou
mensagem em rede social dizendo que "a lealdade é um gesto bonito das boas
amizades".
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