Bernardo Mello Franco, O
GLOBO
Nova confusão à vista no julgamento de Lula no TRF
Há uma nova confusão à vista entre a defesa do ex-presidente
Lula e o Judiciário. No fim de junho, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região
passará por uma dança de cadeiras. As mudanças vão afetar a 8ª Turma, que
julgará o recurso do petista no caso do sítio de Atibaia.
O desembargador Victor Laus, um dos três responsáveis pelos
processos da Lava-Jato, assumirá a presidência do tribunal. Seu lugar na Turma
deverá ser ocupado pelo atual presidente, Carlos Alberto Thompson Flores,
antecipou ontem o portal Gaúcho ZH.
Flores festejou a primeira condenação de Lula, no caso do
tríplex do Guarujá. O desembargador definiu a decisão do então juiz Sergio Moro
como irrepreensível”. “Vai entrar para a história do Brasil”, celebrou, sem
esperar os recursos da defesa. O repórter Luiz Maklouf Carvalho quis saber se o
magistrado havia gostado da sentença. “Gostei. Isso eu não vou negar”, ele
respondeu.
As declarações irritaram o ex-presidente. “Esse cidadão é
bisneto do general Thompson Flores, que invadiu Canudos e matou Antônio
Conselheiro. É da mesma linhagem”, retrucou Lula.
Foi uma provocação infeliz. Tomás Thompson Flores era
tio-trisavô, e não bisavô do desembargador. O militar era coronel, e não
general. Além disso, ele não matou Conselheiro. Morreu três meses antes.
Seis meses depois do imbróglio, Flores voltou a cruzar o
caminho de Lula. Quando seu colega Rogério Favreto mandou soltar o
ex-presidente, o desembargador ligou para o então diretor da Polícia Federal,
Rogério Galloro, e ordenou que ele ignorasse a decisão. Depois do telefonema,
Flores se lembrou de desautorizar Favreto por escrito. Ele devolveu o caso a
João Pedro Gebran, que desejava manter o ex-presidente na cadeia.
O advogado Cristiano Zanin, que defende o petista, estuda
pedir a suspeição do desembargador. “Um juiz tem que ser e parecer imparcial”,
afirma.
Doze anos atrás, Lula condecorou Flores com a Ordem do
Mérito Militar, concedida pelo Exército. Agora o desembargador caiu nas graças
de Jair Bolsonaro. Há três dias, o presidente o escolheu para receber a Ordem
do Mérito Naval, dada pela Marinha.
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