Bolsonaro exerce diplomacia da canelada na América Latina
Em 2007, Lula disse aos jornais argentinos que Néstor
Kirchner era “uma bênção extraordinária” e que a continuidade de sua gestão era
“extremamente importante para a integração regional”. O petista dava os braços
a outros políticos de esquerda para conquistar um papel de liderança na América
Latina.
Na eleição daquele ano, Néstor lançou Cristina Kirchner, que
saiu vitoriosa da disputa. Agora, a ex-presidente tenta voltar ao poder sob a
oposição obstinada de Jair Bolsonaro.
A aliança esquerdista foi turbinada pela prosperidade
econômica da época, graças à alta do petróleo e de outras matérias-primas. A
diplomacia brasileira lubrificou ainda mais a relação, com financiamentos
generosos. Os tempos mudaram, e o Brasil joga seu peso em outra direção.
Bolsonaro aposta numa onda de direita, escorado em sua
própria eleição e na parceria com Donald Trump. A diferença é que sua
diplomacia usa a truculência como método, tem pouco poder econômico e abusa das
lentes ideológicas que sua chancelaria adora denunciar.
Nos últimos dias, o presidente atacou três vezes a possível
volta de Cristina à Casa Rosada. “Peço a Deus que não aconteça”, afirmou. A
candidata peronista carrega oito acusações de corrupção, mas lidera as
pesquisas para a eleição de outubro.
Enquanto metia o bedelho na disputa, Bolsonaro fazia festa
com um acordo comercial diminuto com os argentinos. Na sexta (3), ele foi às
redes sociais para celebrar a abertura do mercado vizinho ao abacate brasileiro.
A fruta representa só 0,007% das exportações do país.
O presidente dá outras caneladas internacionais violentas.
Em meio à escalada da tensão na Venezuela, ele voltou a flertar com uma ação
armada no país: “Quando acaba a saliva, entra a pólvora”.
Ainda que a América Latina vire à direita, Bolsonaro parece
longe de liderar essa guinada. O chileno Sebastián Piñera, que nada tem de
esquerdista, distanciou-se do brasileiro. Ele não gostou do entusiasmo com as
ditaduras militares da região.
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