Desde que Jair Bolsonaro assumiu o volante, o trator do
governo tem atropelado o Congresso, o Judiciário e quem mais ouse passar na
frente. Ontem o piloto engatou a marcha à ré. No mesmo dia, recuou no decreto
das armas e na convocação de passeatas a seu favor.
O presidente já havia acionado sua milícia digital para
inflar os atos do próximo domingo. Chegou a indicar que iria a uma das
manifestações. O objetivo era ostentar força e estimular o culto à própria
personalidade.
Apesar do empurrão oficial, a tropa deu sinais de que não
marcharia unida. Até o presidente do PSL, Luciano Bivar, achou melhor desertar.
Disse não ver “sentido” na mobilização chapa-branca.
O porta-voz do Planalto, que havia celebrado os atos como um
sinal de que “a sociedade está alinhada com o nosso presidente”, tentou
suavizar o recuo. Disse que Bolsonaro desistiu de ir às ruas porque não quer
“associar” as passeatas ao governo.
Se isso fosse verdade, o presidente e seus filhos não teriam
se empenhado para divulgá-las. No mundo real, o Planalto farejou o risco de
fiasco e apelou à receita de Neném Prancha: “Arrecua os arfes para evitar a
catastre”.
No caso das armas, deu-se um fenômeno parecido. Bolsonaro
estava orgulhoso do decreto, assinado numa cerimônia festiva com a bancada da
bala. As críticas de estudiosos e os alertas de que o texto é inconstitucional
não foram suficientes para constrangê-lo.
O presidente só pisou no freio depois da revelação de que o
decreto autoriza a venda indiscriminada de fuzis. A notícia assustou até a
facção menos radical do bolsonarismo, que endossa o discurso da legítima defesa
para justificar o liberou-geral.
No Rio, a novidade ainda criaria uma contradição insanável.
Bolsonaro estimula o “cidadão de bem” a comprar o próprio fuzil, e o governador
bolsonarista manda a polícia atirar em quem porta a arma. A quem o sniper terá
que obedecer?
Ontem o Planalto informou que o artigo que libera os fuzis
pode ser revogado. O risco é o governo recuar neste ponto e manter o resto do
decreto, que institucionaliza o bangue-bangue nas cidades brasileiras.
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