A aprovação da reforma administrativa do governo Bolsonaro —
que será discutida hoje na Comissão Mista do Congresso encarregada de examinar
a medida provisória que mudou a estrutura da Esplanada dos Ministérios — é mais
um teste de forças entre o Executivo e o Congresso. Ontem, o líder do governo
no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE), relator da medida provisória da reforma
ministerial, apresentou relatório em que propõe uma série de mudanças no texto
original do governo, que foram acordadas com o chamado Centrão, entre as quais
a recriação dos ministérios da Integração e das Cidades. Entretanto, a grande
batalha será a permanência do Conselho de Controle de Atividades Financeiras
(Coaf) no âmbito do Ministério da Justiça e Segurança Pública. O acordo para
isso é frágil, muitos parlamentares querem que o órgão volte para a alçada do
Ministério da Economia.
Além do desmembramento do Ministério do Desenvolvimento
Regional, Bezerra propõe a volta da Funai, que hoje está vinculada ao
Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, ao Ministério da Justiça. A
demarcação das terras indígenas, porém, segundo o relatório, continuará
subordinada ao Ministério da Agricultura. A reforma ministerial havia reduzido
o número de ministérios de 29 para 22, mas agora pode passar a ter 24, porque
deputados da chamada “Bancada da Bala” também querem recriar o Ministério da
Segurança Pública. Depois de aprovada pela comissão, a reforma precisará ser
aprovada em plenário pela Câmara e pelo Senado.
Nos bastidores da comissão, são intensas as articulações
para tirar o Coaf do controle do ministro da Justiça, Sérgio Moro, e ainda
reduzir o poder dos auditores fiscais. Somam forças a favor da volta para o
âmbito do Ministério da Economia parlamentares enrolados na Operação Lava-Jato
e também aqueles que veem excessos da força-tarefa e de juízes de primeira
instância por defenderem princípios jurídicos, a maioria advogados. Também
querem reduzir o poder de Moro os parlamentares que são policiais e policiais
militares, que pretendem controlar a política de segurança pública.
A força do acordo negociado pelo líder do governo, senador
Fernando Bezerra, depende de um prévio acerto com Bolsonaro para indicação de
um político para o Ministério das Cidades, que controla o programa Minha Casa,
Minha Vida e a Caixa Econômica Federal. Sem esse acordo, dificilmente o Coaf
permanecerá sob controle do Ministério da Justiça. Como Bolsonaro se elegeu com
o discurso de que não haverá loteamento da Esplanada dos Ministérios entre os
partidos, a ideia é um nome com amplo trânsito no Congresso, que não possa ser
caracterizado como indicação do Centrão.
Ordem unida
O ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno, anunciou ontem que os militares vão virar a página e deixar de responder aos ataques do escritor Olavo de Carvalho, considerado um ideólogo do seu grupo político. Ou seja, receberam ordens para ficarem calados e suportarem os ataques que sofrem nas redes sociais. No Congresso, porém, houve solidariedade generalizada aos militares.
O ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno, anunciou ontem que os militares vão virar a página e deixar de responder aos ataques do escritor Olavo de Carvalho, considerado um ideólogo do seu grupo político. Ou seja, receberam ordens para ficarem calados e suportarem os ataques que sofrem nas redes sociais. No Congresso, porém, houve solidariedade generalizada aos militares.
Bolsonaro enquadrou os militares e passou a mão na cabeça de
Olavo de Carvalho, a quem atribui o papel de mentor político do grupo que o
levou ao poder. O escritor respondeu às críticas do ex-comandante do Exército
Eduardo Villas Boas, general que hoje ocupa um cargo de assessor especial no
GSI, com ataques de baixíssimo calão. No meio da rajada de impropérios, no
Twitter, sintetizou as divergências do grupo político de Bolsonaro com os
generais. “O problema inteiro é muito simples: a pauta do Bolsonaro, e de todo
o povo que o elegeu, é nacionalista, conservadora, cristã e anticomunista. A
dos generais é contra TUDO isso. Será que alguém não entendeu ainda?”,
escreveu.
O epicentro do conflito é o controle da política de
comunicação do governo, entre o ministro da Secretaria de Governo, general
Santos Cruz, e o filho de Bolsonaro, vereador Carlos Bolsonaro, o 02,
responsável pela estratégia de marketing que levou seu pai ao poder. Nos ritos
palacianos de Brasília, o militar está sendo fritado pelo clã Bolsonaro.
Enquanto a política de comunicação do Palácio do Planalto estiver sob sua
guarda, a crise não se resolverá, até porque Bolsonaro deixou claro que ninguém
no governo vai controlar a atuação do seu grupo político nas redes sociais.
Acontece que o general, hoje, tem prestígio entre os políticos no Congresso.
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