Só com uma Lava Jato da Lava Jato, uma Lava Jato honesta
para investigar a Lava Jato deformada, sob manipulação de Sergio
Moro e Deltan Dallagnol,
para interferências políticas e eleitorais. E ainda para ganhos pecuniários
pessoais.
As revelações do site The Intercept Brasil, quase
todas em
associação com a Folha, tornam impossível qualquer dúvida
respeitável sobre o desvirtuamento, passível de configuração criminal, do
ataque à corrupção. Mas, dada a gravidade das revelações, provoca uma
outra dúvida: a de que haja, entre as instituições apropriadas, ao menos uma
capaz de investigação tão profunda e consequente quanto necessário.
O Ministério Público, no qual se enquadram a Procuradoria-Geral
da República e os procuradores, já fez muitas exibições do seu
corporativismo, um apego de proteção mútua entre os integrantes, com mais
serviços aos próprios do que ao interesse geral. Seu Conselho Nacional é um
exemplo admirável de omissão por coleguismo: nunca viu um desmando nas
acusações públicas e sem provas, nas fake news de inúmeros vazamentos, nas
entrevistas insolentes com o Supremo e o Congresso.
A Polícia Federal nem sempre é polícia. Cinco anos para
explicar um
gravador clandestino que o doleiro Alberto Youssef,
malandro velho de guerra, procurou e descobriu em sua cela na PF. Afinal, veio
uma explicação falsa, que não condiz com os fatos: o gravador foi
para Fernandinho Beira-Mar quando hóspede ali, e ali ficou esquecido. Se
gravados sem autorização, seria ilegalidade continuada, sendo Beira-Mar e
Youssef iguais na condição de presos. E a PF obrigada à mesma conduta legal.
Passar por investigação e punição são coisas para policiais
caídos em desgraça, mesmo que tenham feito o que muitos fazem sem problemas. O
exonerado Protógenes Queiroz, da muito
esquisita Satiagraha,
explicaria isso melhor.
Confirmação das indisposições da PF para casos de gente sua,
dois do principais delegados da Lava Jato hoje ocupam postos influentes na PF,
levados por seu colega
de Curitiba e hoje ministro —também por terem sido o que foram na Lava
Jato. Ambos foram os braços de Moro para prisões coercitivas sem justificava e
sem intimação prévia, revistas domésticas abrutalhadas e diante de crianças,
encenações de prisão em que o ridículo fazia a violência. E montado nessa
barragem de autoproteção está o próprio Sergio Moro.
Guardião derradeiro, o Supremo intimidou-se
diante da Lava Jato e das manchetes vindas dos jatistas. O
Conselho Nacional da Magistratura entregou-se a uma demissão moral. Relator no
STF dos processos da Lava Jato, o ministro Teori Zavascki irritou-se
com o abuso de abusos de poder por Moro. Mas, no fim, decidiu reuni-los
todos em uma só, embora dura, advertência. Deixou a via aberta para mais e
piores abusos. Que o Supremo permitiu correrem ou os endossou.
Não há quem investigue e quem julgue os maus investigadores,
maus acusadores e maus julgadores. E, com isso, os próprios combatentes contra
a corrupção confirmam e aumentam a impunidade incumbidos de combater.
NOVO TRUQUE
Muitos preços estão com aumentos fortes sem, no entanto,
influírem nas taxas de inflação e custo de vida. Como ninguém dá atenção aos
rótulos de compras frequentes, em muitos produtos passa despercebido um aviso
em letras mínimas: “redução de 10%”, “menos 5 tabletes”, “agora 90g”.
Menos produtos pelo mesmo ou por maior preço. Sem o consumidor notar o aumento
de dez vezes a inflação e até mais.
Janio de Freitas
Jornalista


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