O ano está terminando? Depende para quem, porque o Supremo,
que está passando por 2019 sob pressão, ainda tem longos dias pela frente até o
recesso de fim de ano e promete um 2020 também agitado. Desde já, 2019 está
adentrando 2020 no STF. Isso, aliás, vale não só para o Supremo, mas
particularmente para seu presidente, Dias Toffoli.
A percepção da sociedade sobre a mais alta corte do País já
foi muito boa, em especial no julgamento do mensalão, considerado o mais
importante da história no combate à corrupção. Mas essa percepção foi
amarelando e não anda lá às mil maravilhas.
Há uma forte incompreensão sobre a liberação em série de
presos e às vezes corretas e necessárias advertências contra o excesso de
prisões preventivas e temporárias, nem sempre deferidas dentro da estrita
legalidade e geralmente se estendendo além do razoável, ou permitido.
A isso se some a divisão do STF, o ambiente belicoso e a
exposição pela TV Justiça das trocas de desaforos e insinuações entre aqueles
senhores tão solenes em suas togas e nem tão elegantes na manifestação de suas
divergências. Todos esses fatores somados, o resultado é uma suspeita que se
consolidou por toda parte: a de “acordão” para esvaziar a Lava Jato.
O caldo entornou de vez, principalmente no caldeirão das
redes sociais, com a reviravolta na autorização da prisão após condenação em
segunda instância, com um voto estranho e desconfortável de Toffoli, que foi
quem levou a questão à pauta apesar de não haver fato novo nem mudança no
plenário e, no fim, num voto mais do que estranho, jogou a confusão no colo do
Congresso.
Câmara e Senado que se virem para trazer de volta a regra,
confirmada pela terceira vez e agora derrubada pelo mesmo plenário do STF, o
que torna tudo ainda mais irritante para uma opinião pública aflita e exaurida
com a eterna impunidade e injustiça quando se trata de réus ricos e poderosos.
Nesse mix de erros, de condução, de decisões e de
comunicação, confundindo os cidadãos, desgastando a imagem da instituição e
subtraindo confiança na Justiça, só faltava uma coisa: o presidente do Supremo
personificar esses erros e concentrar a ira das redes. Não falta mais.
A revelação de que Toffoli exigiu do Banco Central o acesso
aos relatórios financeiros produzidos nos últimos três anos pelo Coaf, agora em
novo endereço e rebatizado como Unidade de Inteligência Financeira (UIF), joga
muito mais lenha na fogueira.
Para piorar, essa decisão de Toffoli veio a reboque de seu
ato monocrático que suspendeu centenas de investigações da PF e do Ministério
Público com base em dados fornecidos pelo então Coaf sem autorização judicial,
beneficiando alvos de toda a natureza.
E… Toffoli assim agiu atendendo pedido justamente da defesa
do senador Flávio Bolsonaro, filho do presidente da República.
Enquanto Toffoli se recusa a considerar o recurso do
procurador-geral da República, Augusto Aras, e desistir de ter acesso a dados
financeiros de 600 mil cidadãos, o plenário do STF se prepara para julgar nesta
quarta-feira, dia 20, se mantém ou não aquela primeira decisão do presidente da
Casa, favorecendo o senador Flávio e os investigados com base no Coaf.
Esse julgamento é mais um importantíssimo neste 2019 sem
fim, porque traz de volta o já bem conhecido Queiroz e joga o foco em Flávio
Bolsonaro, Toffoli, Supremo e o próprio presidente Jair Bolsonaro. Ele alardeia
que não se rendeu ao “toma lá, dá cá” do Executivo com o Legislativo, mas o que
precisa muito é afastar a suspeita de que o “toma lá, dá cá” passou a ser com o
Judiciário. Mais grave ainda: dele com Toffoli.
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