Ala do STF quer usar caso Coaf para impor limites a
procuradores
Flávio Bolsonaro se tornou coadjuvante. O julgamento do STF
sobre o uso de relatórios do Coaf em investigações, na próxima quarta (20),
serviria principalmente para testar a blindagem de que o filho do presidente
dispõe no tribunal. Agora, o caso deve se tornar um novo capítulo da guerra
cada vez mais tensa entre a corte e o Ministério Público.
As críticas feitas por procuradores à notícia de que Dias
Toffoli havia requisitado dados bancários de quase 600 mil pessoas causaram
mal-estar no tribunal. Magistrados passaram a defender que o caso seja
explorado para estabelecer novos limites e inaugurar uma relação mais rigorosa
com o Ministério Público.
O presidente do Supremo lançou um ataque desproporcional ao
ordenar o envio do material a seu gabinete. Queria identificar abusos no
compartilhamento de informações sigilosas entre o Coaf e a procuradoria, mas
acabou deixando transparecer os excessos do próprio STF.
O estresse provocado pelo episódio levou as desavenças entre
procuradores e ministros a um novo patamar, como apontou a coluna Painel.
Alguns integrantes do Supremo afirmam, agora, que o tribunal deve aproveitar o
julgamento do caso para antecipar recados que vêm sendo gestados há meses na
corte.
Uma resposta seria o estabelecimento de uma linha severa
para disciplinar o compartilhamento de informações com o Ministério Público.
Procuradores dizem que essa medida prejudicaria as investigações, mas parte dos
ministros do STF está convencida de que os relatórios do Coaf eram feitos sob
encomenda, para burlar o sigilo bancário.
A irritação no tribunal também pode turbinar os anseios de
uma ala da corte que pretende reprimir eventuais abusos praticados por órgãos
de investigação. O STF, segundo um ministro, “só vai sossegar” quando todos os
excessos forem punidos.
Nessa disputa, os limites aos poderes de cada instituição
vão ficando para trás. Os próximos capítulos podem marcar a entrada dos dois
lados num terreno de destruição mútua.
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