Quanto custa uma motosserra? E várias delas? Quanto custam
tratores, correntões, caminhões? Tudo isso é necessário para desmatar. Um
método primitivo, mas muito usado, é o correntão. Ele vai arrastando as
árvores, mas não funciona sem tratores. São necessários dois, um de cada lado.
Quanto custam dois tratores? Depois, é preciso ter caminhões para transportar
as toras até o consumo. Mas, antes, é necessário ter uma escavadeira hidráulica
com garra de metal para empilhar as toras nos caminhões. Capangas armados
ocupam a terra que está sendo grilada. Fazem isso a soldo. De quem? Documentos
são esquentados, como as guias de transportes. São comprados títulos falsos de
propriedade. O ministro Paulo Guedes disse em Davos que “o pior inimigo do meio
ambiente é a pobreza” e que “as pessoas destroem o meio ambiente porque
precisam comer”. Não é a pobreza que desmata. Para grilar e desmatar é preciso
capital. Muito capital.
O ministro estava num debate sobre outro assunto. Era um
painel sobre indústria avançada e o uso de recursos naturais. Paulo Guedes,
segundo explicou depois, defendia a tese de que os países de economia avançada
derrubaram florestas para escapar da pobreza. Mas essa ideia de que, como
disse, “as pessoas destroem o meio ambiente porque precisam comer” já foi dita
algumas vezes pelo ministro do Meio Ambiente. É uma avaliação errada dos
vetores reais do desmatamento.
No ano passado foram desmatados quase 10 mil km2 só na
Amazônia, numa alta de 30%, segundo o Prodes, do Inpe. E aumentaram as
queimadas. Há muitos estudos provando a correlação direta entre o aumento do
desmatamento e o das queimadas. Não houve um surto de alta da pobreza que
explicasse o que aconteceu em 2019. O que houve foram sinais do governo de que
o crime não seria combatido. E qualquer economia, até a do crime, é estimulada
por sinais e expectativas.
Movimentar essa cadeia do crime, montar as conexões, ocupar
a terra com pastagem, esquentar o documento para vender, tudo isso exige um
enorme investimento. Quando o governo combate o crime e impõe o império da lei,
o risco fica mais alto e o retorno do capital, mais incerto. Neste cenário, há
uma redução do incentivo e a taxa do crime cai. As leis econômicas, sempre
elas, determinam alta e queda da destruição ambiental. Uma forma de combater o
crime é pegar todo aquele material — motosserras, caminhões, tratores,
escavadeiras — e apreender ou destruir. Isso aumenta o prejuízo do criminoso,
mas agora está proibido pelo presidente da República.
O ministro disse que a pobreza é o pior inimigo do meio
ambiente. Deve-se combater a pobreza por inúmeros motivos, mas é preciso
inverter o entendimento do fato. O pobre é a grande vítima da destruição do
meio ambiente. Ele é recrutado como mão de obra em trabalho degradante, depois
é ele que vive os efeitos da degradação da terra, da água e do ar. A falta de
saneamento contamina principalmente as regiões onde moram os pobres. Os lixões
se acumulam é nas periferias. Nos extremos climáticos são os pobres os mais
afetados. Eles não são os agentes da destruição ambiental. São suas primeiras
vítimas.
A criação do Conselho da Amazônia pode ajudar,
principalmente se levar para o governo informações que o ilustrem sobre a
verdadeira origem das redes de ilegalidade na Amazônia e afastem os mitos que
têm dominado as declarações oficiais sobre o assunto. O Conselho será mais
eficiente se não for feito para atender às teorias conspiratórias que mobilizam
o governo Bolsonaro. Foi anunciada também a criação da Força Nacional
Ambiental. Ela precisará de orçamento. Mas esta é a administração que cortou
orçamento do Ibama e do ICMBio, que limitou as ações preventivas e as operações
de comando e controle nas regiões vulneráveis.
É urgente que este governo conclua o período de noviciado e
entenda o que se passa na Amazônia, para deter o aumento do desmatamento.
Primeiro, para impedir a destruição de riqueza coletiva. Segundo, porque o
mundo mudou, como se pode constatar em todos os relatórios que foram feitos por
instituições financeiras para o Fórum Econômico Mundial. O assunto deixou o
terreno da retórica para ser determinante da alocação de recursos dos grandes
investidores.
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