Depois da denúncia sem provas, surgiu a denúncia sem
investigação. Glenn Greenwald não era alvo do inquérito que apura a quebra de
sigilo de mensagens de autoridades da Lava-Jato. Mesmo assim, o procurador
Wellington Divino de Oliveira resolveu acusá-lo de associação criminosa.
Há sete meses, o jornalista do Intercept Brasil revela
diálogos incômodos para o ex-juiz Sergio Moro e a força-tarefa de Curitiba. As
reportagens o transformaram em alvo do governo e de suas milícias virtuais. O
presidente Jair Bolsonaro, campeão de ataques à imprensa, chegou a ameaçá-lo de
prisão.
Agora a ameaça vem do Ministério Público Federal. O
procurador Oliveira pediu à Justiça que o repórter seja condenado pelo antigo
crime de quadrilha. Para isso, ignorou uma decisão do Supremo e um relatório da
Polícia Federal, subordinada a Moro.
Em dezembro, o delegado Luís Flávio Zampronha concluiu que
“não é possível identificar a participação moral e material do jornalista Glenn
Greenwald nos crimes investigados”. Ele indiciou os hackers que violaram as
mensagens, não o jornalista que recebeu e divulgou as informações.
Antes disso, o ministro Gilmar Mendes já havia proibido a
inclusão de Greenwald entre os investigados da Operação Spoofing. Por uma razão
simples: em países democráticos, a Constituição protege a liberdade de expressão
e o sigilo da fonte.
O professor Thiago Bottino, da FGV Direito Rio, leu as 95
páginas da denúncia ontem à tarde. Ficou convencido de que não há nenhuma prova
contra Greenwald. “O procurador escreveu que ele auxiliou, orientou e
incentivou a prática de crimes. Mas não há nada nos diálogos que sustente essa
visão”, afirma.
O deputado Eduardo Bolsonaro festejou a acusação vazia e
tuitou, em tom de piada, que o repórter do Intercept poderá jogar futebol na
cadeia com um deputado do PSOL. O presidente e seus filhos nunca esconderam que
adorariam ver jornalistas e adversários políticos atrás das grades. O que
espanta é ver investigadores dispostos a atropelar a lei para ajudá-los.
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