Ao aceitar um ministério no governo Bolsonaro, o juiz e real
mito Sérgio Moro tinha clara noção de todos os riscos, mas encarou como missão
e como oportunidade de somar o combate à corrupção (agora em nível nacional) e
ao crime organizado. Logo, uma super-Lava Jato. Valia a pena. E agora?
Os dois objetivos de Moro, anti-corrupção e anticrime
organizado, significaram, na prática, reunir novamente os ministérios da
Justiça e da Segurança Pública. Moro contava com isso e Bolsonaro anunciou que
assim seria. Pois é. Já presidente, ele voltou atrás e está seriamente
empenhado em separar as duas pastas.
É assim que Moro, mito da Lava Jato, símbolo do combate à
corrupção, personagem mais popular do governo – mais do que o próprio
presidente –, perde uma atrás da outra. Em bom e claro português, engole sapos.
Com personalidade fechada, contida, é homem de poucas
palavras e menos sorrisos ainda e sempre evitou, no primeiro ano de governo,
reagir, reclamar ou fazer muxoxos ao ser atropelado pelo chefe e até se ocupa
de elogiá-lo pelas redes sociais. Tudo, porém, tem limite. Qual é o limite do
paranaense de Maringá Sérgio Fernando Moro? Essa é a pergunta que não quer
calar.
Perder o Coaf já foi uma pancada, porque o órgão de
inteligência financeira identifica movimentações atípicas, aciona o sinal
amarelo e detona investigações – que podem ou não dar em nada. Mas, depois de
apresentar ao Brasil um tal de Queiroz, o Coaf virou uma bolinha de
pingue-pongue, pulando de lá para cá, e acabou virando UIF e pendurado no Banco
Central. Logo, longe da Polícia Federal e de Moro.
Perder o Coaf já não foi fácil, mas o que dizer da
possibilidade de perder a PF? Essa seria, ou será, uma consequência direta e
imediata da recriação do Ministério da Segurança Pública. Com o Coaf no BC e a
PF em outra pasta, o que Moro ficaria, ou ficará, fazendo no abstrato
Ministério da Justiça? Articulando politicamente com o Congresso, como foi
obrigado a fazer no pacote anticrime? Não é a dele.
Aí entra uma terceira derrota daquele que adentrou o governo
Bolsonaro como “superministro”: depois de acertar com o Senado que Bolsonaro
vetaria o juiz de garantias – uma nova figura claramente “anti-Moro” –, o
ministro foi solenemente desautorizado pelo presidente da República. O veto não
veio, Moro ficou falando sozinho.
Assim, o ministro ficou no meio de um imbróglio envolvendo
os três Poderes, ou melhor, os presidentes do Executivo, que não vetou o juiz
de garantias; o do Supremo, Dias Toffoli, que foi atropelado pelo vice, Luiz
Fux; e o da Câmara, que classificou de “desrespeitosa com o Congresso” a
decisão de Fux de suspender a implantação da mudança sem prazo.
Fux causou um fuzuê institucional, com críticas de todos os
lados, mas com a comemoração explícita de alguém diretamente interessado: o
próprio Moro. Segundo ele, uma medida assim precisa ser amplamente debatida e
não é uma questão para o Judiciário, mas para o próprio Legislativo. No fundo,
quer jogar o juiz de garantias para as calendas.
Assim, aquela primeira desfeita de Bolsonaro com Moro ficou
não apenas distante, como bem pequena: o desconvite para a pesquisadora Ilona
Szabó ser uma mera suplente num mero conselho da Justiça. Foi horrível, mas só
um aviso.
E ainda vem mais: Moro perdeu o Coaf e pode perder a PF e a
Segurança, justamente a área de sua pasta que rende bons índices e boas
notícias. Só sobraria a vaga no STF, mas ela já tem dono: alguém “terrivelmente
evangélico”. Moro é?
Por trás de tudo isso, uma só explicação: Jair Messias
Bolsonaro, que tem mania de perseguição e não suporta competição. Moro era um
troféu, virou competidor. E alvo.
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