Após cerca de três anos, o presidente Donald Trump enfim
divulgou seu plano de paz
para o conflito israelo-palestino, em curso desde 1948 e no centro de
vários embates do Oriente Médio moderno.
Trump ousou, e isso não é um elogio. Nenhum presidente
americano havia tomado integralmente o lado de seu aliado Israel nas disputas
regionais, a começar pela paz de 1979 com o Egito e nas várias negociações
posteriores.
Os palestinos, divididos entre si, não foram ouvidos. Os
canais entre Ramallah e Washington estão cortados desde que Trump reconheceu,
em 2017, Jerusalém
como capital israelense, disputa da qual a maior parte das nações se
abstém.
No ano passado, um aperitivo do plano foi servido na forma
da ideia de um ilusório fundo de US$ 50 bilhões para ajudar os palestinos —a
ser bancado por países árabes, que historicamente fazem proselitismo acerca do
conflito, mas pouco ajudam em sua solução.
No anúncio desta terça, Trump colocou o resto do pacote à
mesa, muito favorável a Israel, como a presença do premiê Binyamin Netanyahu ao
seu lado ratificava.
Grosso modo, o plano dá a Tel Aviv o controle do vale do
rio Jordão e permite a anexação de assentamentos judeus na Cisjordânia. Pior
para os palestinos, o texto emascula o nascente Estado árabe de força militar e
soberania plena.
Até um mapa com tortuosas fronteiras foi apresentado. Nele,
além de pressupor que o grupo Hamas se desarmaria e entregaria a Faixa de Gaza
de forma voluntária, nacos do deserto do Negev são dados para sustentar a
falácia de aumento territorial sob comando da Autoridade Nacional Palestina. A
capital em Jerusalém Oriental ficaria atrás de um muro.
Já a busca por culpados pelo estado das coisas é trabalho
fácil: eles estão em todos os lados.
O plano aproveita o fastio mundial com o conflito, como a
ausência da temida violência em reação à abertura da embaixada em Jerusalém
sinalizou. Netanyahu já até anunciou que procederá as anexações sem
negociações, escancarando a política de fato consumado.
Como dá um prazo de quatro anos para que tais conversas
aconteçam, o texto também serve a um propósito duplo imediato.
Dá a Trump uma cortina de fumaça para o julgamento
de seu impeachment e o verniz pacifista ante um influente eleitorado
pró-Israel em ano de campanha.
Para Netanyahu, que em março disputará o terceiro pleito em
um ano e está indiciado
acusado de corrupção, um ativo eleitoral inestimável no momento de alta
polarização da política israelense.
Ao fim, o casuísmo político eivou tão vital discussão, independentemente dos deméritos do plano.
Ao fim, o casuísmo político eivou tão vital discussão, independentemente dos deméritos do plano.


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