Se o BNDES vender o total dos 10% de ações ordinárias que
tem da Petrobras, na operação que lançou oficialmente na terça-feira, o governo
ficará com apenas 50,3% do capital votante da empresa. Hoje, do capital total,
o governo é dono de 58%. A empresa está ficando menor, já vendeu no ano passado
US$ 16,3 bilhões de ativos e, com isso, reduziu sua dívida de US$ 111 bilhões
para menos de US$ 90 bilhões. Continua sendo a petrolífera mais endividada do
mundo.
Para vender ativos, a Petrobras terá que, curiosamente,
criar outras estatais. Uma delas será a empresa de geração de energia elétrica
para agregar as suas 26 usinas termelétricas. Dessas, só 16 são efetivas. Outra
venda será a dos gasodutos submarinos, as chamadas rotas 1,2,3. Será feito um
IPO, e ela passará a ser sócia minoritária.
Serão criadas outras sete empresas na área de refino. A
venda das refinarias já está na fase das propostas vinculantes. Há pelo menos
cinco interessados em cada uma das refinarias. Serão vendidas as de Manaus,
Fortaleza, Pernambuco, Bahia, Minas, Rio Grande do Sul e Paraná. Mas para que a
operação seja feita, cada uma delas será desmembrada da Petrobras, virará uma
empresa independente para ser vendida. A Petrobras quer ficar apenas com a
Reduc e as quatro de São Paulo. O fim do monopólio no setor foi aprovado por
mudança constitucional em 1996, mas 24 anos depois o refino ainda é monopólio
estatal.
Mesmo que consiga vender esses ativos, reduzir seu passivo,
a Petrobras enfrentará outro dilema para ter futuro: como se tornar menos
fóssil, dado que é uma empresa de petróleo. O mundo caminha na direção de
reduzir as emissões de gases de efeito estufa e isso é verdade até para as
empresas que vivem de prospectar, produzir e vender petróleo, o combustível
fóssil por excelência.
A empresa, diante desse dilema, colocou em marcha um projeto
de descarbonização, investindo nele US$ 170 milhões por ano. Na exploração, há
muitos anos já foi desenvolvida a tecnologia de captura e reinjeção do CO2
emitido. E a empresa quer chegar à meta de 100% de captura desse gás carbônico.
Outra meta que está sendo perseguida é queimar menos gás nas plataformas. Como
o petróleo, ao ser extraído, vem associado ao gás, a empresa sempre queimou
isso pela dificuldade de transportar, mas o total queimado no local vem sendo
reduzido. A Petrobras reduzirá em 50% o metano até 2025. Vai reduzir em 30% a
captação de água doce e aumentar o reuso até 2025. A partir de janeiro ela terá
obrigatoriamente que produzir e exportar óleo diesel com 0,5% de enxofre.
Porém, a atual direção não acredita em investimento importante em novas fontes
de energia e acha que as outras empresas do setor fazem muita propaganda, mas
as fontes alternativas são uma parte pequena de seus ativos.
Apesar de estar em plena temporada de venda de ativos, e no
meio de mudanças de processo para reduzir as emissões, a estatal mais
emblemática no Brasil continua com planos de aumentar a produção. A crise pelo
congelamento do preço dos derivados, os casos de corrupção, e o alto
endividamento provocou uma redução do investimento na empresa. Há dez anos ela
não aumenta o volume de petróleo produzido. Mas por ter vencido o leilão do
campo de Búzios, no fim do ano passado, a direção da empresa acha que conseguirá
aumentar a curva de produção.
O investimento maior que terá que fazer será em Búzios. Mas
é um campo que ela conhece bem. Na área original, a Petrobras já está extraindo
600 mil barris/dia e a um custo de extração de US$ 4. Portanto, é onde a
Petrobras fará a aposta para garantir aumento de produção nos próximos anos.
No último ano, além de vender alguns ativos como TAG, BR,
Liquigás, 65 campos maduros, e o negócio de biocombustível, a empresa encerrou
as atividades da PetroAfrica que tinha com o BTG na Nigéria e devolveu a
concessão da distribuidora de gás ao governo do Uruguai. A negociação com o
então presidente uruguaio Tabaré Vázquez, que era de esquerda, foi fácil e
objetiva, segundo o relato dos negociadores. Nessa distribuidora, o Brasil
vivia a situação surreal de comprar gás da Argentina ao preço do mercado e
fornecer ao consumidor uruguaio a preço mais baixo, com subsídio. A perda
acumulada foi de US$ 200 milhões nos anos em que operou no Uruguai.
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