Jair Bolsonaro fez um cálculo político desesperado e
irresponsável ao insistir no menosprezo ao coronavírus. Enquanto líderes de
outros países tomavam medidas preventivas amargas, o brasileiro se preocupava
com a própria cadeira.
A ficha demorou alguns dias para cair. No início, o
presidente ecoava negacionistas que diziam que a crise era uma fantasia.
Depois, percebeu que a desaceleração econômica causada pela pandemia teria
impacto direto sobre seu poder.
Traumatizado pelo pibinho do ano passado, Bolsonaro
continuou reclamando de reações que considerava exageradas, mas também passou a
dar contornos políticos às restrições impostas para conter o vírus.
“É essa a preocupação que eu tenho. Se a economia afundar,
afunda o Brasil. Se afundar a economia, acaba com meu governo. É uma luta de
poder”, confessou, em entrevista à rádio Bandeirantes, na segunda (16).
Bolsonaro indica que desprezou riscos sanitários porque
pretendia se esquivar da responsabilidade pelos trancos no PIB. Repetiu
exaustivamente o slogan da histeria e acusou governadores de tomarem medidas
que assustaram a população, freando a atividade econômica.
Quase todos os grandes países reduziram suas estimativas de
crescimento depois da explosão do coronavírus, mas o presidente busca um
culpado doméstico de carne e osso.
O esfriamento da economia será mesmo dramático. Bolsonaro
teria razão em se preocupar com seus efeitos sobre os cidadãos mais pobres, mas
parece mais aflito com os impactos políticos. Enquanto ele diz que a crise é
superdimensionada, o ministro da Saúde afirma que o país terá três meses de
“muito estresse”.
Em vez de observar protocolos adotados por outros países e
buscar dados que possam embasar uma resposta direta, Bolsonaro procura
interpretações que se encaixem à força em suas convicções originais.
O presidente apostou que a economia salvaria um governo
incompetente. Agora, ele se recusa a reconhecer que seu cavalo está doente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário