No mesmo dia em que a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que o coronavírus é
uma pandemia global, o Brasil dobrou o número de casos confirmados da
doença ―aos 52 infectados contabilizados pelo Ministério da Saúde somam-se
outros 16 confirmados pelo hospital paulista Albert Einstein, em São Paulo, e
outro na Bahia, todos divulgados após a atualização do balanço federal. O país
―que até então trabalhava no sentido de evitar a propagação do vírus e apostava no tratamento de casos
leves na Atenção Básica― entra em um novo patamar de enfrentamento da doença.
Na fase atual, já não é possível identificar quem transmitiu o vírus. E tanto
especialistas quanto autoridades de saúde avaliam que a disseminação da doença
pode acontecer rapidamente e que, embora tenha uma letalidade relativamente
baixa, é preciso preparar as redes hospitalares para receber uma alta demanda
de pacientes em estado grave. As ações, apontam, são cruciais para evitar que o
Brasil reproduza um colapso no sistema de saúde semelhante ao da Itália.
Em três semanas, o país passou de três para 10.000 infectados e tem enfrentado
um caos na assistência diante da escassez de insumos e da infecção de
profissionais de saúde.
“Temos que estar preparados caso soframos um ataque como o que a Itália viveu”, defendeu o
ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, durante audiência pública no
Congresso. Enquanto pedia mais recursos para ações emergenciais relacionadas ao
coronavírus —o ministro falou, depois, em 5 bilhões de reais—, Mandetta
afirmou que o Governo Federal voltará a prover médicos para capitais e regiões
metropolitanas por meio do Mais Médicos e ampliará o número de postos de saúde
com funcionamento em horário extendido para reforçar a Atenção Básica, onde os
casos leves deverão ser tratados. Pediu, porém, que todos os Estados reorganizem
suas redes hospitalares, inclusive remarcando cirurgias eletivas (ou seja, as
que não são urgentes, como intervenções plásticas) e rediscutindo os critérios
de permanência em leitos de CTI como medidas de antecipação para o caso de o
quadro se agravar no país. “Esses leitos são preciosos e temos que estar
preparados”, defendeu.
Gatilho para medidas de restrição
O aumento agudo da doença no Brasil tem levado autoridades públicas a adotarem medidas mais enérgicas, e até controversas, com relação ao enfrentamento da doença. O Rio de Janeiro, que tem 13 casos confirmados, publicou um decreto que permite a internação compulsória de casos graves da Covid-19. O Congresso Nacional anunciou que estão suspensas as visitações públicas na Câmara e no Senado e que os servidores com histórico de viagem ao exterior entrarão em quarentena. O ministro da Educação, Abraham Weintraub, publicou um vídeo em suas redes sociais no qual sugere que instituições de ensino se preparem para realizar atividades escolares a distância por causa do coronavírus. Também avalia a possibilidade de antecipar as férias escolares. Algumas universidades começaram a testar plataformas de ensino à distância, e o Distrito Federal já decidiu suspender aulas em escolas públicas e particulares nos próximos cinco dias. Não há unanimidade sobre esse tipo de medida. O próprio ministro Mandetta pondera que a suspensão de aulas pode agravar riscos para avós das crianças, que integram o grupo de risco mais alto da doença por conta da idade. “O maior grupo de risco são nossos idosos e doentes crônicos. Este é o grupo que nós queremos superproteger”, argumenta.
O aumento agudo da doença no Brasil tem levado autoridades públicas a adotarem medidas mais enérgicas, e até controversas, com relação ao enfrentamento da doença. O Rio de Janeiro, que tem 13 casos confirmados, publicou um decreto que permite a internação compulsória de casos graves da Covid-19. O Congresso Nacional anunciou que estão suspensas as visitações públicas na Câmara e no Senado e que os servidores com histórico de viagem ao exterior entrarão em quarentena. O ministro da Educação, Abraham Weintraub, publicou um vídeo em suas redes sociais no qual sugere que instituições de ensino se preparem para realizar atividades escolares a distância por causa do coronavírus. Também avalia a possibilidade de antecipar as férias escolares. Algumas universidades começaram a testar plataformas de ensino à distância, e o Distrito Federal já decidiu suspender aulas em escolas públicas e particulares nos próximos cinco dias. Não há unanimidade sobre esse tipo de medida. O próprio ministro Mandetta pondera que a suspensão de aulas pode agravar riscos para avós das crianças, que integram o grupo de risco mais alto da doença por conta da idade. “O maior grupo de risco são nossos idosos e doentes crônicos. Este é o grupo que nós queremos superproteger”, argumenta.
Ainda não há muitas respostas sobre a performance do novo
coronavírus em clima tropical, e o Governo Federal diz trabalhar com o comportamento apresentado até agora no hemisfério
norte. Com a caracterização de pandemia pela OMS, o Brasil não terá mais uma
lista de países suspeitos e passará a monitorar qualquer pessoa que venha do
exterior e apresente sintomas. Não considera, porém, restringir o trânsito de
pessoas, como Donald Trump acaba de fazer suspendendo voos para os EUA vindos
da Europa, ou impor quarentenas. “Nós estamos na fase de recomendações. Podemos
passar para determinação. Vamos andando de acordo com o que vai acontecendo
aqui”, disse Mandetta a parlamentares nesta quarta-feira.
Na semana passada, o Ministério da Saúde já havia mudado a
metodologia para testagem do coronavírus. A nova orientação tirou a
exclusividade de testes para pessoas com histórico de viagem ao exterior para incluir também os que apresentam quadro respiratório
grave, o que permite a identificação de possíveis casos transmitidos no
Brasil e oferece maior precisão ao monitoramento de circulação da doença no
país. Um sistema robusto de testagem tem mostrado êxito no enfrentamento do
novo coronavírus em países como a Inglaterra, por exemplo. Lá, o paciente que
apresentar sintomas pode ser testado em casa. No Brasil, o caminho neste
sentido ainda é longo. Atualmente, nem todos os Estados conseguem fazer os
testes em seu próprio território, e a previsão é de que ainda demorem uma
semana para estarem aptos a fazê-lo. “A previsão é de que todas as unidades da
federação estejam aptas, até dia 18 de março, com equipamento, com kit pronto
para fazer o teste dentro do seu estado”, informa Mandetta. O ministro prevê
que as próximas semanas serão duras e que, num país continental como o Brasil,
é difícil mensurar o nível de preparação de cada Estado para o aumento da demanda.
“Vamos viver umas 20 semanas duras”, disse o ministro ao Estadão.
O vice-presidente do Conselho Federal de Medicina, Alexandre
de Menezes Rodrigues, chama atenção para a necessidade de pensar não apenas na
prevenção, mas no tratamento da Covid-19. “Grande parte das mortes no mundo
foi por despreparo do suporte”, destaca. Ele defende, por exemplo, a
necessidade de rediscutir as regras sobre a quantidade de médicos por leitos de
UTI. E que o país precisa se preparar para um aumento da demanda de pacientes,
já que a permanência de infectados por coronavírus nos hospitais costuma ser
prolongada. Para proteger seu corpo médico, hospitais particulares começaram a
orientar seus profissionais que evitem viagens. Na esfera pública, ainda não há
orientações nesse sentido. Por enquanto, o Governo Federal afirma ter
conseguido comprar material de proteção, como máscaras e outros
insumos, e orienta que os próprios Estados se organizem para reforçar suas
redes hospitalares.
Na ponta, as mudanças ainda começam a ser desenhadas de
forma pontual num contexto em que nem o sistema público nem o privado têm
grandes margens em relação à disponibilidade de leitos de UTI, onde poderão ser
tratados casos graves da doença. “Isso porque esses leitos são
caros, e você precisa racionalizar para as necessidades. Os Estados têm que se
adequar para essa demanda que virá. São modificações que temos que fazer hoje
porque não dá pra esperar o número de casos aumentar para começar”, diz o
infectologista da Diretoria de Vigilância Epidemiológica do Estado da Bahia,
Antônio Carlos Bandeira. O médico diz que a Bahia tem reativado UTIs pediátricas
para receber pacientes graves por conta do coronavírus e que o Estado está
hierarquizando o sistema para transferir pacientes a hospitais de referência.
“Estamos preparando uma rede com gestores para que possa haver esse fluxo
rápido”, explica.
No Hospital das Clínicas, em São Paulo, há um protocolo
estabelecido para tratar casos de Covid-19, e profissionais que antes se reuniam semanalmente
passaram a discutir diariamente estratégias. Mas não há ainda implementação de
medidas antecipando uma fase mais aguda da doença. “A gente prevê a
possibilidade de realocar profissionais, adiar eletivas, bloquear uma UTI só
para isso. Está previsto, mas ainda está longe de ser implementado”, diz Izabel
Marcilio, médica epidemiologista do núcleo de vigilância epidemiológica do
hospital. Nesta quinta-feira, o Governo de São Paulo, Estado que mais concentra
os casos no Brasil, informará novas ações para enfrentamento da doença. A
grande questão será a partir de que momento estabelecer medidas de restrição de
circulação.
O fato é que o Brasil tem redes hospitalares muito distintas
em cada Estado, o que dificulta prever o limite de atendimento do SUS, conforme
ressaltou o próprio ministro Mandetta em entrevista ao Estadão. “O
Rio de Janeiro aguenta muito pouco. São Paulo aguenta um pouco mais. O Paraná é
nosso melhor sistema, a melhor rede de distribuição. O Acre não tem nenhum
caso. O Brasil é um continente”, declarou.
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