A Ásia terá vários países em recessão, na Europa, a Itália
certamente afundará e talvez a Alemanha. Nos Estados Unidos, o cenário mais
suave é de desaceleração forte, o pior cenário inclui uma crise de crédito
porque as empresas americanas estão muito endividadas. Esse é o quadro
econômico que está se formando com a dispersão do covid-19, segundo a visão do
economista José Roberto Mendonça de Barros. No Brasil, o Congresso criou uma
despesa obrigatória de R$ 20 bilhões por ano. O dinheiro é destinado aos mais
pobres, mas na visão da equipe econômica isso derruba na prática o teto de
gastos.
Tudo está acontecendo ao mesmo tempo no mundo. O vírus se
espalhando, as bolsas despencando, as economias reduzindo o ritmo de
crescimento. Sobre a China, Mendonça de Barros usa o dado do BNP Paribas, de
queda do ritmo do PIB para 4,5%. O primeiro banco a rever fortemente o crescimento
da China foi o BNP Paribas. O economista-chefe do banco no Brasil, Gustavo
Arruda, disse que quando sua equipe conversou com o time da Ásia e viu a
gravidade da situação, em 18 de fevereiro, ele reduziu a previsão de
crescimento do Brasil para 1,5%.
— Dada a gravidade da situação era impossível que ficasse
localizado na China. O Brasil é afetado de diversas formas. Pelo canal externo,
pelos preços das commodities, mas também pelas importações de vários setores,
como eletrônicos — disse Gustavo.
O Brasil seria afetado economicamente, mesmo que não
houvesse complicações locais. E há. Na opinião de José Roberto Mendonça de
Barros, da MB Associados, a economia que poderia segurar o mundo seria a
americana. Mas ela também tem problemas.
— As empresas americanas estão muito alavancadas. A dívida
corporativa está em 47% do PIB. Nesse quadro o risco de haver um problema de
crédito é muito grande. Com a guerra de preços de petróleo, entre Arábia
Saudita e Rússia, as empresas mais vulneráveis são as da indústria do shale
oil. Essas estão correndo risco de vida. Os bancos regionais do Texas, por
exemplo, podem ter problemas. É por isso que o Fed elevou a oferta de
assistência de liquidez — disse Mendonça de Barros.
Os cancelamentos de eventos públicos já estavam afetando em
cadeia as empresas aéreas, os hotéis, o setor de serviços, e agora serão mais
frequentes depois que a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou que o
Covid-19 é uma pandemia global. E isso é parte da desaceleração do PIB mundial
que está em curso. A economista Silva Matos, do Ibre/FGV, alerta que o setor de
serviços é o que tem o maior peso no PIB. Por isso, essa crise deve levar a
novas revisões do crescimento brasileiro. Ontem o governo recalculou para 2,1%.
Ninguém acredita no mercado que fique nesse patamar.
Além de tudo isso, a conta das trapalhadas políticas de
Bolsonaro chegou ontem. Um governo sem base parlamentar, de um presidente sem
partido, que hostiliza e ameaça o Congresso, o que pode receber de volta? O
Congresso derrubou ontem o veto do presidente a um projeto que quadruplica o
valor da renda de quem pode receber o Benefício de Prestação Continuada (BPC).
Pelas contas da equipe econômica, o gasto será de R$ 20 bilhões por ano. Hoje,
só quem tem um quarto de salário mínimo de renda familiar é que pode requerer
BPC. O projeto eleva para um salário mínimo.
— Isso representa um tiro de canhão no teto de gastos,
porque é despesa obrigatória que nem pode ser contingenciada. É uma encrenca
das grandes. Porque não sabemos de onde pode ser tirado um valor deste tamanho
— comentou um integrante da equipe econômica.
Aliás, ontem, no Ministério da Economia, eles estavam
trabalhando exatamente no cálculo do valor a ser contingenciado. É obrigatório
congelar despesas quando se faz uma revisão para baixo do crescimento do PIB.
Do ponto de vista da saúde pública no mundo, a situação é de
incerteza. Mendonça de Barros lembra que nos Estados Unidos não há uma rede
pública de saúde e 30 milhões não têm plano. A economista Monica de Bolle, que
mora lá, conta que a atitude do presidente Trump de negar a dimensão da crise e
não aceitar o teste desenvolvido pela OMS com outros países atrasou a resposta
do país em seis semanas. Aqui também o presidente Bolsonaro voltou a subestimar
o risco do coronavírus. Contudo, a crise global, na economia e na saúde,
continua se agravando.
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